Edmar Oliveira
Esmirradinha,
magrelinha como baby no coração do Brasil da música do Melodia. Metro e meio de
altura em quarenta e oito quilos. Peso de um bode, diria meu avô, especialista
no sacrifício da criação e magarefe do mercado de Palmeirais.
Sarah
Menezes saiu do Piauí para ganhar uma medalha de ouro em Londres, segunda
medalha feminina para o Brasil na história das Olimpíadas. Primeira feminina do
Judô. Não é pouca coisa para nosso ufanismo e deve aumentar a autoestima de um
povo rejeitado em seu próprio país. A nossa bandeira de couro de bode tremula
no pavilhão da glória. Sarah, cara de palestina com nome de judia é filha do
sol do equador. Ela desceu da nave mãe pousando no planeta terra mostrando que
os filhos do sertão também têm lugar nessa corrida de visibilidade no mundo da
globalização.
E
ela não precisou sair do Piauí para chegar aonde chegou. O seu treinador,
Expedito Falcão, compôs a equipe de treinadores da COB. A bichinha mora na
Piçarra o seu tatame é ali por perto. Prometeu a família e conciliou o esporte
com os estudos. Termina agora a faculdade de educação física. E foi no calor de
Teresina que aprendeu os golpes de entortar os japoneses. Depois que ganhou o
ouro declarou que vai se dedicar a formar novos atletas, entre meninos pobres,
no seu espaço em Teresina, o que merece ser destacado tanto quanto a medalha
ganhada.
Já
tinha nome na praça, por esforço e persistência. Apesar de eliminada nas
Olimpíadas do Japão, foi bicampeã de Juniores (2008, Amsterdã; 2009, Paris), no
Campeonato Mundial de Judô teve bronze em 2010 (Tókio) e prata em 2011 (Paris).
Mas a glória maior aconteceu em Londres.
Imagino
uma transmissão da luta na qual ganhou a medalha, derrotando a romena Alina
Dimitru, no idioma piauiês:
“Sarah
avança, parece um frango querendo ser galo. Uma rudopia em vorta da outra. A
miúda empurra a gringa não querendo intimidade, nem mais-mais-mais. Ataca a
lourona, que ficou meio desprevenida. Dá uma imprensada “decumforça” no braço
da fogoió, que a loura réia quaje desiste. Mas não. Parece que era fuleragem da
oxigenada. Volta pra luta. Sarah tá doida pra sapecar um bufete na fuça da
curica, mas se contém pra num ser desclassificada. Fica ar duas estudando umas
zazoutra. A esmirradinha vai pra cima da loura giganta. Arruma outra chave de
braço na fogoió que sentiu o braço réi já estrumbicado. Sarah sapeca um
contrapedá. A loura disguia e nossa atleta cai no chão. Mesmo caída, a
esmirrada joga as pernas no rumo das cadeiras da lourona e atraca com os
cambitos o mucumbu da fogoió. Que qui tu acha Zezim? ‘Isso é só fogoió de água
doce, dá um peido, se acabou-se’ – Brigago Zezim, pelos comentários. Sarah
continua arrochando. Arrocha e a loura
parece sentir a passarinha.Sentiu a passarinha! Vai se arriando que nem gai réi
pôde. A piá acocha uma chave de perna na cunhã, que vem de riba pra baixo
encostando o cucuruto no chão. A fogoió
estibucha, faz munganga, mas o nó de pernas da piçarrenta é pra botar a gata
pra miá. A foigoió tá pedindo penico. Sarah sem dó nem piedade acocha o buriti.
Mesmo de cabeça pra baixo a baixinha aperta mais o mói de vara. A fogoió já tá
esverdeada e azeda réia. Nem se bule mais. Arrocha, Sarah! Segura a cunhã!
Gãiemos! Gãiemos! Sarah de ouro nos estrangeiros! O mundo todo de ‘juei’ respeita nóis! O mundo
todo se ajueia! O mundo todim: Oropa, França e Bahia!”
Mas
isso é quando não havia ainda a globalização e nós falávamos esta língua. Agora
tá tudo globalizado e igualizado. Mas lá no fundo a “rente” ainda grita:
Arrocha, Sarah!
4 comentários:
Viva Piauí!
Viva Piauí!
Sarau merece tudo de nós. De mim terá um Cordel que se chamará:"A saga de Sara", assim, sem h. Belo texto Edmar, principalmente a versão em piauinês. Chico Salles.
Sarau merece tudo de nós. De mim terá um Cordel que se chamará:"A saga de Sara", assim, sem h. Belo texto Edmar, principalmente a versão em piauinês. Chico Salles.
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