Geraldo Borges publica seu segundo livro. Este por uma editora do Rio de Janeiro para medir sua distância em relação à Teresina. Não a cidade de hoje que atravessou o Poty deixando uma Província Submersa entre dois rios. É naquele espaço, hoje abandonado, que Geraldo vai buscar sua cidade. A citação de Proust no intróito declara a intenção: “um livro é um vasto cemitério onde na maioria dos túmulos já não se lêem as inscrições apagadas”. Pois bem, apesar da advertência proustiana, o autor, munido de uma memória prodigiosa, lustra bem as ruínas submersas, dá vida a personagens mortos, reergue monumentos esquecidos, recria os mitos de nossa infância perdida.
Os personagens de sua família, um avô não conhecido, o tio inesquecível, ganham vida tão real quanto os conhecidos de nossas lembranças. Joqueira, Honorato, Manelão, Bibelô, dona Estefânia e seus sobrenomes sem-fim, o Cabeça-de-Cuia, a Não-se-Pode, já não se sabe mais quem é o mito, são todos de carne e osso, na construção magistral desse quebra-cabeça de lembranças achadas. São pedaços de recordações que fazem a composição de tipos que se transformam em personagens de uma crônica em capítulos, fascinante, mesmo para quem não conheceu nada do que constituiu a antiga cidade verde, na definição (há muito perdida) de Coelho Neto.
Se pode ler um romance no encadeamento das crônicas do Geraldo. Um romance de uma cidade que não mais existe, que está submersa nas memórias. Mas que de forma emocional e sensível, sem entretanto perder o humor que torna sua leitura leve, nos é revelado pela construção literária de Geraldo Borges. Tomei sua leitura num só fôlego e a Teresina revivida é a da ponte metálica que adorna a capa do livro. Não existe naquela Teresina a Ponte Estaiada, que simboliza a nova cidade. Não se assustem se o autor refaz uma cidade esquecida. Ele mesmo resume sua construção: “Em Teresina não existe mais trem. Fiquei perambulando pela cidade até o dia acabar de amanhecer. Aí acordei e vi que tudo não passava de um sonho em busca de uma cidade perdida. E que eu jamais teria esperança de redescobri-la, a não ser descendo ás ruínas de seus antepassados”.
2 comentários:
Essas leituras reavivam minha memoria. Acontece agora mesmo vendo essa ponte que tanto atravessei de com os meus próprios pés, para jogar uma bola nas croas quando elas apareciam do lado de Timon. E o Bibelô!! pareço ver sua imagem quase vestido(a) de Carmem Miranda das ruas. A minha é a Manoel domingues, nas proximidades do cemitério São José. Bibelô andava por lá.
Adorei o livro do Geraldo, tenho 47 anos, mas li e me emiginei em cada página de seu livro, sou teresinense ( apesar de mais jovem, lembro-me ter vivido alguns monentos que ele narrou, um deles é o curso de DATILOGRAFIA, naquele época quem não tivesse o tal curso, tava ferrado, eu o fiz na escola do Fiuza, acho que me dei bem. E o final do livro me emocionou bastante, pois concordo com ele, chegamos nessa estação de mãos vazias e partiremos da mesma forma ( só com uma diferença: Ter brincado, vivido muitas experiências, fumado, fudido e envelhecido, com a cabeça de monge: se o trem chegar estaremos pronto para partir).
Abraços, Moisés OLiveira
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