Geraldo Almeida Borges, historiador, poeta e contista piauiense, autor de Tiro de misericórdia (contos), Teresina, Edições Corisco / Academia Piauiense de Letras, 1989, cofundador do CLIP (Clube Literário Piauiense), movimento cultural dos anos de 1960, no Estado do Piauí, publica agora no Rio de Janeiro, Província submersa: Crônicas Teresinenses (século XX): personagens, mitos e monumentos. Com um estilo claro e ritmo intimista , o autor dá forma ao vivido, combinando realidade e fantasia na construção literária da protagonista – a cidade de Teresina do século passado. Estas crônicas encadeadas subvertem o gênero compondo um romance de mitos/lendas (Não Se Pode, Cabeça de Cuia), personagens populares, poetas, ficcionistas , políticos, livreiros, professores, boêmios, e as metamorfoses dos subúrbios (urbanização da Tabuleta), da Escola Industrial transformada em Universidade, da navegação no Rio Parnaíba ( decadência e extinção nos anos de 1950), o surgimento do Mercado do Troca-Troca, a permanência do Mercado Velho e do Beco.
O ficcionista mobiliza a intimidade com a paisagem urbana (incluindo os tipos humanos), a condição de testemunha dos acontecimentos, e o recurso à memória, para apresentar personagens que vão compor a mitologia de Teresina. Merecem destaque na imprensa, o jornalista Alberoni Lemos, criador do lendário “O Beco”, o Tio Semana, introdutor da tipografia no Piauí, o cronista literário Arimathea Tito Filho, professor de Português no Liceu Piauiense, a cronista social Elvira Raulino, o jornalista Helder Feitosa (proprietário de periódico ) e dentre os livreiros destacam-se Antonio Nobre (amigo dos frequentadores da livraria) e Nilo Marinho ( também empreendedor). Contribui para os estudos literários mostrando escritores em cena como o contista Pedro Celestino (Sinais de Seca) e o poeta João Ferry (Chapada do Corisco). Para completar o cenário, recria a vida literária dos bares e dos intelectuais da noite.
O leitor terá a oportunidade de sentir a presença dos monumentos históricos e recordar a arquitetura de Teresina: o cais da Paissandu à beira do Rio Parnaíba – ícone da saga da navegação fluvial, a ponte de ferro João Luiz Ferreira, símbolo da cidade, a estação da estrada de ferro São Luiz-Teresina – via de comunicação com o mundo, a casa Anísio de Abreu – espaço de sociabilidade e experiência intelectual dos jovens nos anos de 1950, e a Casa da Amizade – marca do moderno trabalho dos batistas.
Pontua todo o volume a dicção informal, estabelecendo uma convivência de amizade intelectual e afetiva com os companheiros de geração, o autor como narrador participante da história confere importância à imaginação com que reveste a criação de certas figuras: Raimundo Rios, Manelão, Bibelô, o Profeta, o rabo luminoso, o livreiro Antonio Nobre, Olímpio Vaz da Costa, e até personagens reais se configuram com o recurso da fantasia como Pedro Marques e João Clímaco D’Almeida. Finalmente, as cenas líricas da adolescência na rua Campos Sales, os jogos de futebol nas localidades vizinhas, e todo um mundo de brincadeiras de infância dos fantásticos e maravilhosos anos do século XX.
(Francisco Venceslau dos Santos – UERJ)
____________________
Venceslau é o Editor de "Província Submersa" (Editora Caetés, RJ, 2011)
Um comentário:
Aproveitando ensejo do lançamento de tão respeitável livro e no intuito de colaborar com a preservação da memória do saudoso e inesquecível Livreiro Antônio Nobre e toda a sua lista de relevantes serviços prestados à educação e cultura do estado do Piauí, eu, seu filho, Fernando da Silva Aguiar,após o fechamento da DILERTEC-Livraria Nobre,(fenômeno que ocorreu com algumas livrarias independentes no país), fui cursar biblioteconomia, mas pendendo mais para o ramo livreiro, montei um pequeno e modesto sebo, localizado na Central do Livro Usado, na Rua Coelho Rodrigues, centro de nossa capital, onde ofereço a nossa comunidade, livros didáticos, paradidáticos, técnicos, literários, etc...
Mesmo com a minha graduação em Biblioteconomia pela UESPI, sei que não sou portador do cabedal de conhecimentos do Nobre, mas com o sangue de livreiro circulando nas veias, dedico-me a esta árdua tarefa de vender livros. Monteiro Lobato já enunciava "Um País se faz com Homens e Livros", alguns afirmavam ou afirmam:"O livro é algo perigoso", e o experiente livreiro Antônio Nobre emendava:"Mais perigoso é ignorá-lo".
Com muito amor, em nome de toda a família, envio um abraço fraternal a todos os amigos, simpatizantes e até mesmo algum ou outro "antipatizante", que possa nutrir tal sentimento por não conhecer mais a fundo a grandeza de coração deste grande homem, que de origem tão humilde, um autodidata, chegava, em certos momentos, a esbravejar contra a nossa república, não por desafeto, mas movido por sentimentos patrióticos, em que, como afirmou o nosso querido Imortal Francisco Miguel de Moura, quando da despedida do Nobre de sua vida terrena, fulminado por terrível doença,onde foi morar com o PAI, ofereceu todo o seu sofrimento por uma sociedade mais justa e dotada de amor.
Fernando S. Aguiar
Postar um comentário