O Piaui é um meio dia prolongado. É um mercado velho, um doce de buriti, uma carne de sol e muito sol na carne. É chupar cana olhando a plantação, cansado. É uma batalha do Jenipapo, uma chuva de caju. É ficar doido só de visitar Oeiras. É ver turista e pensar que é missionário. É ter 2 televisões em casa e não saber assinar o próprio nome. É uma vontade de aparecer no jornal pra ter certeza de que existe quando até livro de geografia ensina pro povo o contrário. É ser filho do sol do equador e pai do homem americano.
O Piauí é uma rua cheia de cadeiras na calçada, uma fila de vizinhos curiosos e falantes, uma família imponente numa casa de azulejos. É um monte de ermo sem eira nem beira. É um campo de futebol de terra batida com o time do bairro e bancos para as meninas. Piauí é Dona Maria de braços abertos e olhos molhados a espera do primo que vem do estrangeiro. É saudade do Rio, de São Paulo, de Brasília e do futuro. É ter que climatizar uma rua, inventar uma praia e ser cheio de idéias para o que fazer no sábado.
É uma casa de taipa que derrete na chuva, é criança chorando com fome, é dengue, é seca, é uma mucura. É onde mais se reclama do calor, mas quando o dia fica bonito pra chover todo mundo corre pra casa. Parece mais fraco que choque de lanterna, mas é a chapada do corisco. É um manguezal de bem-te-vi. É um coqueiro, um cajueiro, um caneleiro e é uma mulher com um vestido vermelho e um colar de opala. Tem cara de capivara criada por Catirina. É uma mambira.
É renda, é palha, é barro. É um festival de cachaça, uma festa junina, um festival de inverno e, vez por outra, um inferno. É um café da manhã com beiju, cuscuz, bolo frito e café com leite. É talvez ter que dormir junto com o sol e acordar antes dele. Ter medo de onça, cobra, boitatá e de tomar lá onde as patas tomam. Dizem que é terra de macho, mas também tem muita moita! Também dizem que o Piauí é o cu do mundo, mas é só porque ele foi o único estado colonizado pelos fundos. O Piauí tem gosto de gás, talvez por isso pareça com o Iraque. Tem cheiro e cor de cajuína, é uma menina.
::Foto:: Júnior Araujo::
4 comentários:
Que texto belíssimo. Sou carioca, e fiquei com saudade deste Piauí sentimental, profundo, que me emocionou pelo desfiar de palavras que viravam cor, dor, frutas, feridas. Maravilha! Obrigado!
Sou de Niterói, moro em São Paulo e não conheço o Piauí. Desde o primeiro contato com o Piauinauta, me encantei por essa terra.Que coisa linda esse texto!
Lelê Fernandes
é mermo
É um manguezal de bem-te-vi
O Piauí é uma rua cheia de cadeiras na calçada,
Parece mais fraco que choque de lanterna, mas é a chapada do corisco.
é uma mulher com um vestido vermelho e um colar de opala.
É um monte de ermo sem eira nem beira.
mas é o
filho do sol do equador e pai do homem americano.
que diabo é que esse povo todo fazia no cú do mundo?
procurando um ôco modi morar dento,
na certa.
desde o cú dos tempos.
porta-voz do hipocampo e 2ª pessoa do ><"°>
Passaram vários anos e aqui chego eu. Em 2017.
Hoje é aniversário de Teresina, capital do Piauí.
Agradeço a quem passou por aqui e gostou do texto. E a você, piauinata, por ter compartilhado. :))
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