domingo, 14 de agosto de 2011

A visão de um novo cronista

Geraldo Borges


O inútil tem sua forma particular de utilidade
Carlos Drummond de Andrade.





Prometi a mim mesmo que de agora em diante não farei mais crônicas falando mal de todo mundo, quer dizer, principalmente do governo e também dos amigos; eu acho que a verdadeira crônica tem que ser frívola. O autor está desobrigado de falar mal, são tantos os que  falam mal do governo que um a menos não faz falta. Pois é. Falando assim me encaminho para um novo comportamento Alguns de meus leitores vão estranhar, outros acharão que eu fiz muito bem. Talvez os frívolos, os quais gozam à minha estima. Mesmo assim uma crônica frívola como esta pode ser fruto de uma escola. A escola da inutilidade pratica que serve apenas para o descanso de domingo. E quase como se a crônica fosse uma missa, um baile. O leitor recebe o jornal dominical. Começa a se sentir enojado com os títulos e os conteúdos das manchetes. Para felicidade sua chega ao suplemento cultural, e dá de cara com  a minha crônica. Pensa logo:- eu não vou ler este cara, é um imbecil, fica falando de Deus e o mundo sem tomar chegada. Na verdade não tem estilo. Mas como a negação já é um principio de afirmação, ele vacila e pescado pelo titulo nem nota que já está de boca aberta com os olhos grudados no texto. Não encontra o que procura.

E ele mesmo? Pergunta-se. Toma um gole de café, e acende um cigarro. Isto não é apenas uma viciada metáfora literária, ainda acontece. Cigarro, café e leitura. Entre uma baforada e outra exclama Não pode ser. Não é que estou gostando de seu texto. Ele não diz nada. Não sai do lugar. Mas vale a pena ler. Pelo menos não está perdendo tempo espinafrando essa velha republica. E não posso mentir, o seu estilo ficou mais leve, sem grosserias. Com certeza vai arranjar mais leitores.

Na verdade, as pessoas estão cansadas de ler artigos, crônicas maçantes, batendo nas mesmas teclas, sempre os mesmo problemas adiados para nunca serem resolvidos. E por isso vão à missa onde há promessa e aos bailes onde há diversão, e também se divertem lendo crônicas frívolas e líricas, pois é para isto que a poética serve para o divertimento das almas perdidas que não tem mais esperança de mudar o mundo.

Esta crônica é fútil, dirão alguns leitores, eu também já disse. Mas também  é um objeto social, um trabalho saído de minhas mãos com a ajuda do meu pensamento, das minhas impressões imediatas, transportadas em palavras através da tecnologia de um computador. Repito é um objeto inútil, metafísico, transcendental, no entanto, toma o tempo das pessoas, enfeita o espaço, embora não esteja dizendo nada de importante. Mas alegra os olhos do leitor, e, com certeza, mesmo não sendo uma missa, ou um baile, pode ficar na lembrança de algumas pessoas.

 Já me perguntei muitas vezes sobre o prazer da leitura, sobre o feitiço da palavra escrita, e, como leio quase tudo desde bula de remédio a cartas enigmáticas, descobrir que as palavras são em primeiro lugar ferramentas para a construção do mundo. Onde ela se torna arte, é outra história. Talvez este seja o momento infantil da palavra, o jogo, a brincadeira. A frivolidade. Pois nem toda a leitura mexe com a gente. O leitor não ler uma bula de remédio como quem ler um poema, a não ser que seja uma bula papal. Mas uma bula com o tempo pode virar uma poesia e ser objeto  para uma crônica e não apenas uma indicação terapêutica

O certo é que de letra em letra de palavra em palavra foi encaixando períodos e parágrafos até criar esta crônica, não foi fácil, até por que ele não tem endereço certo, flutua, uma simples folha de papel impresso, vazia de conteúdo serio. Mas, o importante é que é minha criação, uma experiência única, que, penso eu, irá agradar aos leitores frívolos, quanto aos sérios não sei, isto fica para o futuro. Mas o que mais me impressionou nesse texto, é que ele não tem nada a ver com o meu velho estilo. É um estilo novo, novíssimo, e espero com isso fazer escola. Se não, paciência. Volto ao velho estilo. E farei esforço para ser um personagem sério.

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ilustração: desenho de Paulo Moura

Um comentário:

Paulo Moura disse...

Pois meu sonho de consumo é fazer o projeto gráfico e as ilustrações de um possível futuro livro do querido Geraldinho Borges. Já pensou?!