domingo, 28 de agosto de 2011

na fila para um concurso público


Geraldo Borges

         Há dias estou lendo a Constituição e o Código Penal para me preparar para um concurso que está anunciado no Diário Oficial da minha velha república. Nunca pensei que este tipo de concurso viesse a se realizar. Mas no meu país pode acontecer de tudo. E aconteceu o que eu não esperava. Aliás, o que ninguém esperava. Até porque somos um país cristão, e sempre abominamos a violência, principalmente a violência bíblica: antes do evangelho, olho por olho, dente por dente.

         Estou estudando todos os dias. Há tempo que não faço um concurso. E de todos que fiz nunca consegui passar, com louvor, a ponto de ser chamado. Não acredito que seja falta de conhecimento. E mais questão de método. Nunca aprendi a estudar. Requer esforço. Verdade que nunca trabalhei como advogado. Depois que terminei o curso, que estagiei, comecei a sentir que não tinha estomago para a profissão. Principalmente depois que li e reli o Processo de Kafka, e também o Castelo, e o Processo Maurizius de Jacob Wassermann, escritor alemão.

         Mas aonde mesmo eu quero chegar. Estou em uma encruzilhada e quero sair dela. E de repente me lembro de Julio Cortazar e do seu conto do qual não me lembra o nome. Mas o motivo é um cadafalso construído na frente da rua da casa do personagem principal da história. O que deixou todo mundo curioso e assustado. Ele descreve a curiosidade emocional do povo defronte de uma forca.

         Pois bem. A minha história, o meu esforço para ser alguém na vida, o meu estudo passa pela forca, a cadeira elétrica, a guilhotina, a injeção letal, fuzilamento.

         Vamos ao ponto. Dei o braço a torcer, e, agora, com certeza vou ter de passar nesse concurso. Até mesmo porque sendo poucas as vagas, acredito que, nem todo mundo, a juventude em geral, terá coragem de encarar. Resumindo. Estou estudando dia e noite para um concurso federal na categoria de carrasco. Pois a pena de morte vai ser decretada em minha republica. Nesse eu passo.



         P/S

         Quando fui me escrever, acreditem se quiserem. Desisti. Pois não tive coragem, nem paciência de enfrentar a fila, que, dobrava a esquina, superlotada de jovens inocentes que procuravam uma colocação na vida.


Um comentário:

LOUCA PELA VIDA disse...

Nossa... amanhã (11)faço um da PMT, cadastro de reserva, para assistente social. Sou concursada como professora. O salário é maior do que as 60 h como professora do municipio e Estado. O q me motivou. Há ... tanto conteúdo, tantas leis, a seguridade social toda, SUS e ainda o Português. Depois dos 40, duas graduações, uma especialização e uma porrada de cursos; atacou uma preguiça tão grande. Que vou lá só p/ não perder os 60,00 da inscrição, só marcar a prova.
"Ando devagar porque já tive pressa." Fase...