domingo, 28 de agosto de 2011

Tipos de Leituras

Edmar Oliveira

Há algumas e bastantes diferentes nas motivações que os próprios livros determinam. Tem o autor que todo mundo leu e você tem de ler também. Mesmo que ele não desperte em você o que parece despertar em “todo mundo”. A propósito, ao descobrir que na África e Ásia alguns povos são nossos irmãos e aos portugueses na língua, houve uma troca intensa de autores e livros entre nós. Feiras, bienais, mafuás de publicações, principalmente de autores novos, vivos e participativos. Uma festa. Algumas editoras abriram coleções dedicadas a este nicho revelador dos talentos. Uns, ainda em digestão, recomendando os ainda mais novos sabores. Mas aí, gato e lebre se misturam nas novas páginas. Portanto é preciso que nos deixemos levar pelas impressões despertadas.

            Eu só consigo ler um livro se sou lido por ele. Explico melhor. Se, no que estou lendo, acho que posso escrever melhor, sinceramente não vale a pena continuar, até porque acho que escrevo mal. Mas pode o autor ser muito melhor do que eu seria capaz, mas não empolga muito. Toda vez que publico algo fico muito receoso dessa descoberta acontecer no meu leitor. Ele, como eu, não vai gostar. E leitura interrompida é pior que coito. Ninguém deve escrever para ser mal-amado. Até que para ser odiado vale a pena.

            Mas vai que você goste do que está lendo. Aí o ritmo dita a qualidade da obra, quero crer. Tem uma boa leitura que pode ser feita aos bocados. Quase que um determinado tempo, dia, semana, coincida aos capítulos da obra. Se esse tempo não varia muito e até diminui, boa coisa estás a ler. Se ao contrário, ai,ai, o que parecia bom está ficando ruim...

            Esse “ao contrário” já aconteceu comigo muitas vezes. Mas, como sou meio determinado a acabar o começado, raramente desisto de uma obra. Quando acontece é porque acabei de ler algo tipo “acabamos de passar o ponto em que não há mais retorno” ou “não mais como antigamente, mas ainda assim alguma coisa”. Algo assim me faz abandonar a leitura imediatamente, na certeza de que é um equivoco alguém publicar a pretensa obra.

            Mas o embalo na leitura é sempre muito agradável. E há os livros que me lêem assustadoramente. Nuns, entro de fato saindo da minha realidade e vivendo os personagens como colegas de infortúnios sofridos, companheiros de emoções compartilhadas, alegrias numa fantasia que se coloca como verdade. (Muito melhor que os livros filosóficos, onde verdades parecem fantasias). Devo ter lido essa comparação em algum lugar, porque a minha fantasia está muito nas verdades dos livros que me alimentam.

            Mas há ainda os bons, de fato. Aquele que a gente não consegue parar de ler e sente falta quando acaba... 
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ilustração: "A Piscina", desenho digital de João Werner 

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