domingo, 24 de outubro de 2010

Arre égua!





Edmar Oliveira



Mais uma vez fui à Teresina pelo entroncamento de Brasília. Aquele aeroporto parece a Estaca Zero da canção do poeta. Jogaram a gente por um portão A, onde um ônibus nos levava taxiando pela pista comprida até a aeronave estacionada. Cheguei com os primeiros passageiros e aí começou o martírio. Esperamos quase uma hora pelo embarque de outros ônibus, que chegavam conforme o tempo da conexão de São Paulo, Goiânia, Campo Grande e de outras paragens.


Dentro do avião as caras conhecidas dos conterrâneos e o sotaque inconfundível, além do falar alto e fazer graça com tudo, transformou a espera num perfeito mercado do Mafuá. A aeromoça distribuía um panfleto convocando a um Concurso Cultural chamado “Meu Amigo Golfinho”. Solicitava um texto, sugestão de nomes para o bebê golfinho e premiava com uma viagem a Orlando. Meu vizinho de cadeira reclamou da temática, sugerindo que se fizesse um concurso “Meu Amigo Calango”, que era a possibilidade dos conterrâneos participarem. Quando a moça distribuiu umas balas, outro reclamou que na vinda deram um bom-bom mais pretinho e não esse amarelado que parecia um cearense. A moça perguntou se a outra bala era petit gateau.” Era esse francês afrescalhado mesmo” – respondeu o passageiro.


Finalmente os ônibus chegados lotaram a aeronave e a decolagem se fez. Quando começaram a servir o pobre lanche das viagens de hoje, outro conterrâneo comentou que quando começou a viajar nem tinha coragem de falar com a aeromoça, tão arrumada que a moça era e que serviam o “de comer” numa bacia de inox. “Agora era aquela porcaria de sanduba que parecia o pão massa fina da garapa do Caçula”.


Tinha um vaqueiro do sertão vestido de texano e falando um inglês com sotaque de São Raimundo Nonato. Seu interlocutor só falava “hã-hã”, me parecendo não entender a língua de filme americano cantada pelo outro.


Uma senhorinha, de um metro e meio, cabelo ondulado e brilhante, parecendo penteado com azeite de mamona, foi na casinha do avião e se esqueceu de passar a tramela na porta. Um outro conterrâneo interrompeu os afazeres da tia e falou alto que não era aquela a intenção. Típica desculpa de piauiense.


O comandante anunciou o tempo de vôo e a temperatura esperada pra Teresina já quase à meia-noite: 30º C.! Todo mundo começou a imaginar o sol nascendo e a temperatura subindo, devendo chegar aos quarenta e poucos pelo meio dia. “Arre égua!” – um conterrâneo interjeitou por todos nós...


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ilustração do grande Gervásio

4 comentários:

LOUCA PELA VIDA disse...

Rsrs...

VELOSO disse...

Parabens pelo blog e parabens ao gervásio!

VELOSO disse...

Parabens pelo blog e parabens ao gervásio!

zan disse...

Edmar, meu companheiro, a última vez que fiz essa viagem foi há uns cinco anos atrás, mas eu me lembro sempre de uma coisa quando recordo essas e outras mais pra trás: os políticos que nela vinham junto comigo me davam uma agradável certeza, a de que aquele avião não cairia... Tu não quer que eu nomine aquelas criaturas, né companheiro? Alguns ainda estão "vivos" por aí...