A JORNADA DE CASSIANO
Se eu fosse Cassiano
Eu seria um poeta solitário
Seria prisioneiro do arco-íris
Teria inveja dos marinheiros
E comporia dois blues
Se eu fosse Cassiano
Aceitaria o destino sem queixas
Procuraria insone a paixão sem rosto
Encostaria meu rosto num ombro moreno
E acharia a noite inteiramente semafórica
Se eu fosse Cassiano
Teria a solidão como exercício
HÁ ANDERSON BRAGA HORTA
Quando a mão trêmula de Deus
Deixou a noite cair
Deu-se a fragmentação da paixão
No canto autoral do poeta de Carangola
Anderson Braga Horta
Ao romper das veias
O poeta esvai-se em ternura
Enquanto o vento vaga
Sobre a vida que segue voando
Há pássaros no aquário
Há arados que nos lavram
E há tristeza no belo
Há Anderson Braga Horta
***
Enfim, fui-me
Tudo agora é eternidade
Continuo contínuo barco
Sou devolvido ao ar
Crucificado no crepúsculo
É que chego e parto a qualquer hora
A nuvem é meu talismã
Minha tatuagem
Cada veia cortada jorra rosas
Tudo é flauta em penumbra
Tenho medo da lua
A minha meta é o fundo profundo
***
DOMINGOS CARVALHO DA SILVA
É possível morrer
Com uma rosa nas mãos
Enquanto besouros
Riscam a lua
Ampliando
O horizonte das sombras?
Espelhos sonham teus sorrisos
Teu sangue circula como abelhas
E dá cor à pele das palavras
***
EUDORO AUGUSTO
O céu da boca desta manhã
Rabisca cicatrizes de luz
No coração do meio-dia
Isso vale um passeio no jardim
Na ferida do dia que se abre
Antenas saltam dos telhados
O voo é mais real do que os pássaros
O tempo adormece nas plantas
Para além dos sonhos e das sombras
Onde a fala é o silêncio
Como o abraço do nada
Há a mais oculta lua
Eu sou apenas um rio
Que corre sempre pro bar
***
LUIZ MARTINS DA SILVA
Agradeçamos o aroma do café
E o verso impecável de marfim
Façamos do etéreo eterna lápide
Para além de todo e qualquer limite
Eis o tanto que te posso
Vi a mulher amada,
Montanhas, campos e oceanos
Amei pela vida todas as palavras
Ágeis guardiãs dos sentimentos
As ânsias de embarques
Estrangulam minha prévia saudade
(Climério Ferreira)
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A partir desse número, o Piauinauta publica a "Poética Candanga" de Climério Ferreira. Climério homenageia os poetas de Brasília, fazendo nos seus versos, o estilo de cada um.
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