quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Da Poética Candanga


A JORNADA DE CASSIANO

Se eu fosse Cassiano

Eu seria um poeta solitário

Seria prisioneiro do arco-íris

Teria inveja dos marinheiros

E comporia dois blues

Se eu fosse Cassiano

Aceitaria o destino sem queixas

Procuraria insone a paixão sem rosto

Encostaria meu rosto num ombro moreno

E acharia a noite inteiramente semafórica

Se eu fosse Cassiano

Teria a solidão como exercício

E muito bicicletaria

para o poeta cassiano nunes
***


HÁ ANDERSON BRAGA HORTA

Quando a mão trêmula de Deus

Deixou a noite cair

Deu-se a fragmentação da paixão

No canto autoral do poeta de Carangola

Anderson Braga Horta

Ao romper das veias

O poeta esvai-se em ternura

Enquanto o vento vaga

Sobre a vida que segue voando

Há redes armadas no nada

Há pássaros no aquário

Há arados que nos lavram

E há tristeza no belo

Há Anderson Braga Horta

***


FERNANDO MENDES VIANNA

Enfim, fui-me

Tudo agora é eternidade

Continuo contínuo barco

Sou devolvido ao ar

Crucificado no crepúsculo

É que chego e parto a qualquer hora

A nuvem é meu talismã

Minha tatuagem

Cada veia cortada jorra rosas

Tudo é flauta em penumbra

Tenho medo da lua

A minha meta é o fundo profundo

***




DOMINGOS CARVALHO DA SILVA

É possível morrer

Com uma rosa nas mãos

Enquanto besouros

Riscam a lua

Ampliando

O horizonte das sombras?

Espelhos sonham teus sorrisos

Teu sangue circula como abelhas

E dá cor à pele das palavras

***




EUDORO AUGUSTO

O céu da boca desta manhã

Rabisca cicatrizes de luz

No coração do meio-dia

Isso vale um passeio no jardim

Na ferida do dia que se abre

Antenas saltam dos telhados

O voo é mais real do que os pássaros

O tempo adormece nas plantas

Para além dos sonhos e das sombras

Onde a fala é o silêncio

Como o abraço do nada

Há a mais oculta lua

Eu sou apenas um rio

Que corre sempre pro bar

***



LUIZ MARTINS DA SILVA

Agradeçamos o aroma do café

E o verso impecável de marfim

Façamos do etéreo eterna lápide

Para além de todo e qualquer limite

Eis o tanto que te posso

Vi a mulher amada,

Montanhas, campos e oceanos

Amei pela vida todas as palavras

Ágeis guardiãs dos sentimentos

As ânsias de embarques

Estrangulam minha prévia saudade

(Climério Ferreira)


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A partir desse número, o Piauinauta publica a "Poética Candanga" de Climério Ferreira. Climério homenageia os poetas de Brasília, fazendo nos seus versos, o estilo de cada um.

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