quinta-feira, 25 de junho de 2009

SAUDADE

Edmar Oliveira

É misturada às lembranças que se encontra a saudade. No deixar o pensamento assim à-toa, sem muita ocupação, as lembranças se animam em aparecer. Primeiro vem nas alegrias de boas coisas que estavam no esquecimento muito lá enfurnado por dentro dos nossos esquecimentos. E dessas lembranças a alegria nos contagia num gosto de quero mais. Pode ser uma cidade, um beco, um morro. Pode ser uma moça, um sorriso, uma perna. Um rio, um caminho, uma casa. A gente lembra dos pedaços das coisas que foram boas com alegria nos olhos. Que não estão a enxergar o que estamos a olhar. Mas se viraram pra dentro de nós, remexendo às memórias.

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E é nesse olhar pra dentro que procuramos as lembranças. Primeiro os pedaços de imagens, meio soltas embaralhadas, nos aguça os fatos, os acontecimentos. E aí as imagens se encadeiam numa história de nossa imaginação, misturando o que aconteceu com o que podia ter acontecido. O que a gente ganhou de tudo aquilo que nos forjou no passado. O que as lembranças construíram em nós e existem cá no presente.

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Mas também tem os acontecidos ou coisas que poderiam ter acontecido que perdemos lá no nosso passado. A tristeza espanta a alegria. O brilho do olhar que vasculhava a alma se embaça numa lágrima que insiste em se fazer. Um nó na garganta aumenta o lacrimejar sem controle nos olhos.

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Remexendo as lembranças, vez em quando, se esbarra na saudade. Ela se recusa a ter conosco aqui no presente. Ela só existe por nos marcar na alma lá no passado. As lembranças nos atacam, a saudade não vem. Ela nos carrega para o passado, lá perto dela...

Um comentário:

Sandra Chaves disse...

Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Chico Buarque
Existe uma saudade gostosa,que acaricia a alma,aquece as lembranças e re-inventa o passado. Afinal,saudade só se tem do que foi bom,do que valeu.
Bj, meu querido. Está ótima esta edição.