quinta-feira, 11 de junho de 2009

Um filho da mãe

Geraldo Borges


A velha acordou à meia noite com o barulho de um ladrão dentro de casa. Tinha o sono leve, estava com noventa e cinco anos. Nesse dia o seu filho que morava com ela tinha saído para uma festa e ainda não chagara.
A velha levantou–se, saiu do quarto. E acendeu a luz da cozinha. Tinha o aspecto tão inofensivo, que quando o ladrão a viu, não correu. Ficou olhando para ela, parado. Ela o tomou por seu filho que tinha saído.
- Meu filho. Você ainda está acordado, uma hora desta, quer uma suco de maracujá para dormir?
Com esta pergunta, o ladrão que estava meio acuado, relaxou, ao ver que não tinha mais ninguém em casa.
- Aceito mãe.
A velha preparou o suco.
Enquanto isso o ladrão deu inicio ao seu trabalho. Entrou no quarto da velha, depois no do seu filho, e pegou os valores que encontrou por lá. Foi tudo muito rápido.
Quando a velha veio com o suco ele já estava na sala esperando.
- Tome meu filho o seu suco para que você possa dormir.
- Sim mãe. – Balbuciou o ladrão saboreando o maracujá com açúcar, e sentiu-se como um menino mimado. Lembrou-se que quando era criança nunca teve tamanha regalia. A única bala que lhe ofereceram na vida depois que ficou homem foi bala de revólver. Olhando a velha ali em sua frente pensou em devolver o dinheiro que tinha apanhado no quarto dela e do filho. Mas ponderou. Não era ético, não era profissional.
Terminou de tomar o suco, fiou lambendo os beiços. A velha lhe perguntou
- Quer mais meu filho?
Ainda sobrara um pouco dentro do liquidificador.
- Aceito, sim, mãe.
Terminado o último gole de suco, lambeu os beiços de novo. E ficou olhando pela janela por onde tinha entrado. Pensou. Vou sair pela porta. Terei que alegar que vou a uma conveniência comprar cigarro. Como já tinha feito o seu serviço não podia demorar ali por mais tempo. Corria o risco da velha despertar caso fosse sonâmbula.
Encaminhou-se para a porta de saída da casa e disse que ia comprar cigarro.
- Cuidado meu filho a cidade está violenta. Existem muitos assaltantes por aí.
- Não se preocupe mãe eu me cuido.
Saiu. Na calçada respirou o ar da noite. Olhou para as estrelas no céu. E sentiu-se cheio de graça.
De manhã, o filho da velha chegou. Quando foi abrir a porta viu que não estava fechada. Ficou com a pulga atrás da orelha. Entrou em casa. Olhou para um lado e outro da sala, viu a janela aberta.
- Por aqui andou ladrão.
Entrou em seu quarto, deu por falta de jóias e dinheiro. Chamou a mãe e conversaram. Ela contou-lhe que quase não dormiu de noite. E lhe perguntou se tinha comprado cigarro.
- Que história é essa de cigarro mãe?
- É que eu acordei tarde da noite. Você estava acordado também.
- Não estou entendendo.
- Aí eu fiz um suco de maracujá para você. Você tomou e disse que ia comprar cigarro.
- Não pode ser. Não aconteceu nada disso. Fomos roubados.
- Mas você era a cara do ladrão meu filho...

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