quinta-feira, 11 de junho de 2009

àquele que não chega a lugar algum

Aderval Borges

abra os olhos sobre as fragatas de Abrolhos
veja lá que cena:
o flagrante óbito nessas costas de tão frequentes naufrágios
a milhas... muitas milhas da fatídica amarissagem
bóia o volumoso inflado pelos próprios gases
a face corroída sem mais disfarces
na falta de ar, veio à torna com um adesivo da Air France
a TV que a tvdo antevê
e a Internet que em tudo intromete
emitem raios e ondas para arrebatá-lo da memória dos homens
este corpo sem identidade não terá, jamais, qualquer traço de vergonha
seus intestinos ficarão meramente expostos
até ser levado pela maré – esta é sua nova sina
à família restará a desconsoladora esperança dos insones
“oh, não, o nosso terá sobrevivido!” (não se sabe onde e nem como)
partida em tira ficará a mentira e seus vestígios
a depor contra cada grito emudecido que some

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