quinta-feira, 11 de junho de 2009

Pássaro-Gaiola

Edmar Oliveira

Um misto de fascínio e horror eu tenho para esta invenção premeditada por Ícaro. Motor a explosão e mais pesado que o ar parece livre, mas aprisiona. A gravidade é uma lei muito forte para poder ser desrespeitada. O equilíbrio no ar se faz na velocidade imprimida nas turbinas, portanto é preciso da força para manter-se em vôo. E o enorme pássaro de metal não imita a ave que voa pela força mecânica e planando nas correntes de ar para traçar uma rota com segurança quase mais leve que o ar.

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Parece um pássaro, mas é, de verdade, uma gaiola que nos aprisiona em pleno vôo. No seu ventre as vidas são submetidas ao destino do pássaro. E quanto menos humano mais computadorizado se apresenta numa certeza sem dúvida. E é por não se duvidar da certeza que o erro mais simples pode se tornar fatal desastre. Os últimos grandes desastres aéreos parecem induzidos pela tecnologia. Confiamos mais nela que em nós mesmos. Lembram da tragédia induzida pelo computador Hal em 2001, filme do Kubrick? Com o deslumbramento pela a tecnologia não confiamos mais nos instintos básicos da nossa capacidade animal de nos mantermos vivos. E confiamos cegamente na certeza sem dúvida dos instrumentos.

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E o pássaro gaiola, mais uma vez, desistiu do sonho de voar para chamar a atenção de que o sonho pode virar pesadelo derretendo a cera que prendia as asas a Ícaro...

2 comentários:

Unknown disse...

Pois é e depois usamos as tais tecnologias para buscar os corpos vagantes e aplacar nossas dores. E serve qualquer coisa: até laptop!
E ainda temos que aguentar a mídia-urubu rondando os corpos, as buscas. Não sou contra a censura, mas a mídia também poderia exercitar o silêncio, suportar as dores das famílias e parar de ficar farejando morte por aí! E focar a falta de segurança que os nossos ícaros modernos têm! É Edmar, eu não sou cética, não! Faço como os antigos, rezo muito quando viajo de avião!

Sandra chaves disse...

Como diz John Rogers Searle: "a consciência, a intencionalidade, a subjetividade e a causação mental fazem parte de nossa história vital biológica, juntamente com o crescimento, a reprodução, a secreção da bílis e a digestão"

E as nossas maquininhas, voadoras ou não , são incapazes de tudo isso. Os erros são humanos, uma vez que máquinas não pensam. Sobretudo ao confiarmos extremamente nelas, erramos.