quinta-feira, 14 de maio de 2009

Notícia de um assalto inusitado 2

Durvalino Couto


(Edmar:


Fiz este poema imediatamente depois de ler a crônica que Gullar escreveu na Folha de São Paulo, domingo, 17 de agosto, com este mesmo título. A crônica é justamente sobre a ânsia do poeta em descrever um fato aparentemente corriqueiro, mas que o desestruturou no meio do tempo: o cheiro/olor de um jasmineiro em flor, no bairro do Flamengo.Bom, não conheço o poema que nasceu da experiência do poeta maranhense, quando foi (literalmente) atacado pelo jasmineiro, e creio que deva ser excelente. Modestiamente fiz o poema que a crônica despertou em mim. Acho que ainda não o havia mandado para o Piauinauta. Eis, portanto.

Durvalino)


Ô louco

olor

Lorens Ginas

Marilyns Marílias

Scarletts Sâmias

nem uma ninfa

me lançou nesse torpor



Fui assaltado por um jasmineiro em flor

em pleno Flamengo



Mingus Miles

monstros musicais

não levaram a cabo esses

sentimentos viscerais

(– esse cheiro! –)

Tais quais esse jasmineiro



Seria jasmim-do-cabo? Um feiticeiro?

Aromas ancestrais?

Chanel nº 5

lençóis fatais




Ô louco

olor

Chamem os policiais

tomem providências contra jasmineiros

prendam os jardineiros

esse jasmim traiçoeiro

por que o cultivais?



O assalto à página branca

não o explicará

jamais

Flor de maracujás!

Essência de manga-rosa

bosta de vaca

que emana dos currais

Que poeta sou?

Essência de Odisseu?

Circe Nunca Mais

Um jasmim deu cabo de minhas narinas

conspícuas e NASAis

Fora do poema não existem rosas

assim tão vaporosas



– por que me assaltais?


Durvalino Filho
no Day After, 18 de agosto de 2008





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