quinta-feira, 28 de maio de 2009

Hinos Patrióticos




Geraldo Borges


O Brasil, segundo Graciliano Ramos é o país que mais tem hinos patrióticos e paroquiais, municipais, para ser cantado de qualquer jeito em qualquer coreto de uma pracinha do interior. Toda agremiação tem o seu hino, nada contra, quem canta seus males espanta, e nosso povo tem mais é que cantar. Haja hinos, com o peito juvenil, com o peito varonil.
Mas o nosso grande hino para o qual todos ficam de pé e tiram o chapéu, é o hino nacional. Esta é uma obra magnífica de estilo barroco, construído em pleno período romântico.. A música é de Francisco Manuel da Silva (1795-1865). O texto foi escrito por Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927). Pena que é mal cantado nos grupos escolares. Aprecia-se a musica, mas não se entende patavina do conteúdo. Alguns o decoram outros nem isso.
O problema do hino é a letra. Foi escrito por um erudito. Quando digo letra estou falando do seu vocabulário. Se no final do hino a professor perguntar aos estudantes o que é lábaro, o que é impávido, colosso, o que é clava, o que é bosque, o que é margem plácida, brado retumbante, raios fulgidos, o penhor desta igualdade, florão da America, poucos, talvez saibam.
Confesso que quando era menino cantei o hino nacional e em vez de dizer mais garrida, dizia margarida E não sabia o que estava dizendo. A professora nunca nos deu uma lição de português usando como texto o hino nacional.
Pois bem. Depois do hino nacional, quando deixei de ser menino, conheci outro grande hino que muito me chamou atenção pela carga emotiva que explodia de dentro dele, este hino conseguiu extrapolar as fronteiras de seu país e ressoar longe. Qual foi o estudante do ginásio no Brasil, no tempo em que se estudava francês, que não cantou e leu a Marselhesa. Talvez com maior entusiasmo do que quando cantava o hino nacional. Houve um tempo em que a França era a nossa segunda pátria, no que concerne a filosofia e a literatura. Allons enfant de la patrie. Assim começa o hino. O hino da Revolução Francesa, o hino nacional da França. Fala em liberdade, igualdade, fraternidade, palavras fácies de se entender. Palavras que todo mundo conhece e lutam por ela.
Outro hino que também não me pode ser indiferente. Pois quando ouço me dá vontade de ficar de pé e levantar a mão esquerda é a Internacional. Este hino foi composto em 1888 por Pierre Degeyter, operário anarquista de origem belga fixado com sua família na cidade francesa de Lile, o hino se espalhou por toda a França. A versão em russo serviu como hino da União soviética de 1917 a 1941, também foi usado como hino do Partido Comunista da União Soviética, e cantado pelos socialistas e por todos os sociais democratas
Todo hino e uma exaltação patriótica, por mais provinciano que seja.
A Internacional vai muito além das fronteiras, das rivalidades. Poderíamos dizer que seria o hino mais compreensivo, mais humanístico, mais claro de todos os hinos. Alguns versos da Internacional dizem:
“ Bem unidos façamos, nesta hora final, uma terra sem amos, A Internacional “.
O hino nacional me toca porque me ensinaram a cantá-lo, mesmo errando aqui e ali, quer dizer, tropeçando em seus versos A Marselhesa me arrebata porque é um hino que expressa uma bandeira que ainda não foi comprida, pelo menos razoavelmente, A Internacional por que continua com o seu estandarte para frente, acenando tempos melhores, mesmo com a recalcitrância de muitos blocos econômicos que acham que depois do capitalismo tudo é utopia
Liberté, egalité, fraternité. Vamos continuar cantando. Por enquanto a roda do mundo gira, os donos do Poder estão meios atarantados. Cada nação canta o seu hino, Mas quem sabe um dia um novo hino surgira com uma nova melodia, com ritmo e letras iguais e será cantando por todos, com clareza, num vocabulário que todos entendam.

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