quinta-feira, 14 de maio de 2009

Ulisses Guimarães e o PMDB



Geraldo Borges


No começo da década de oitenta, por ai assim, estive presente na Assembléia dos Deputados, em Teresina. No estado do Piauí. Lá ouvi Ulisses Guimarães, que estava fazendo campanha pelas diretas já. Em sua companhia se encontrava Teotônio Vilela e seu filho, hoje governador das Alagoas. Mas eu quero falar mesmo é sobre Ulisses Guimarães, que é considerado por muitos historiadores um varão de Plutarco.
Voltemos à Assembléia. Todo mundo sentado. Algumas pessoas de pé. Veja o leitor a expressão: todo mundo sentado. É força de expressão. Ulisses estava de pé e caminhava em direção da tribuna mostrando o seu porte elegante. Cabeça rapada, parecendo uma imagem cravada em uma moeda. Uma figura que atraia os olhos ali presentes. Quase ao chegar à tribuna descuidou-se um pouco e tropeçou, por um triz não caiu, não levou uma queda e foi ao chão. Houve um suspense pairando em toda a Assembléia. Mas num gesto elegante e preciso Ulisses equilibrou o corpo e disse numa tirada de quem tem bom humor.
“Eu posso cair, mas o PMDB não cai”.
. Eu sempre admirei pessoas espirituosas, capazes de dar a volta por cima, levantar os ânimos, que tem sempre uma palavra final da ponta da língua, contanto que tenha sentido, seja bem argumentada. Ulisses fez do episodio, de sua quase queda, uma bonita figura de retórica, uma metáfora, em forma de enigma, um oráculo. Naquele momento já estava começando o seu discurso, com uma epigrama, um preâmbulo.
Eu posso cair, mas o PMDB não cai.
Tomou seu lugar na tribuna e proferiu o seu discurso, um belo discurso, acompanhado de pausas para ouvir os aplausos. Saiu nos braços do povo.
O PMDB estava no auge de sua luta pelas diretas já, cumpria o seu papel histórico, era o velho MDB do grande navegante Ulisses. Veio a Constituinte, o Brasil realizou o seu sonho de liberdades democráticas. Uma nova etapa política e social se esboçou no universo brasileiro. Uma cortina de novos sonhos estava se abrindo para o palco de uma nova geração que deveria fazer tudo para representar bem o seu papel juntamente com o PMDB.
Na verdade, para muitos o PMDB não caiu, mas perdeu a sua unidade ideológica, ficou sem vísceras, entregou-se ao fisiologismo, fragmentou-se na multiplicidade de seus caciques de província, ficou claudicante, incapaz de grandes vôos. Hoje não tem hombridade para apresentar um candidato a presidente da republica. Mas, nem por isso deixa de marcar presença no paço presidencial, nas salas do Poder negociando prebendas, dando-se muito bem.
Ulisses Guimarães não presenciou as mudanças do PMDB. Não navegou em suas águas estagnadas, em seu pântano. Eu posso cair, mas o PMDB não cai, e um verso que tem seu reverso. Ulisses caiu, mas a sua queda foi uma ascensão, sepultado pelo Atlântico, nunca mais encontrado, sua vida teve um componente da narrativa maravilhosa, do herói desaparecido. O PMDB rendeu-lhe homenagens, a bandeira do Brasil talvez tenha sido areada a meio pau. A oposição estava perdendo um de seus últimos moicanos.
O PMDB começou a escancarar as portas para os seus antigos opositores, arenistas, pefelistas, muralhas da ditadura, que mudaram mais tarde a nome de seus partidos. O PMDB não mudou de nome, mas mudou de caráter. Não sei qual a diferença.
Eu posso cair, mas o PMDB não cai.
Ambos caíram. Só que a queda do seu partido foi maior que a sua. Fragorosa. A dele foi celebrada e Ulisses tem seu lugar no Panteão da história..Quanto ao seu partido é melhor não continuar falando. Fede.

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