quinta-feira, 28 de maio de 2009

Gripe Suina


Edmar Oliveira

Não sou do tempo da gripe espanhola, não sou tão antigo assim, embora bem usado pelo tempo. Mas trago na lembrança a lembrança dos mais velhos na minha meninice: a gripe espanhola fez um estrago no mundo maior que a guerra de 1914. Em 1918 uma gripe asiática trazida à Europa por jovens soldados espanhóis, ganhou esse nome. As tropas internacionais estacionadas na Europa foram vítimas da gripe. Os soldados foram poucos vitimados pela peste. Mas em compensação ajudaram a dizimar a doença mundo adentro matando velhos e crianças em forma alarmante.

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Dizem os cientistas, com seu saber extraordinário, que, vez por outra, um vírus da influenza das aves e dos suínos é transmitido ao homem e aí a mutação se encarrega de fazer uma doença letal. Lembram da recente gripe aviária do oriente? Ensaiou umas muitas mortes por lá, mas não chegou ao ocidente como peste. Agora, os porcos do México transmitiram um vírus mortal aos homens, chegando aos Estados Unidos e alguns outros países, com vários casos suspeitos no Brasil. Será a peste pós-moderna?
Sei não, mas eu aqui na minha santa ignorância científica acho que é preciso um “futucar” desenfreado dos homens aos bichos para se conseguir gerar o salto darwiniano de passar do bicho ao homem. E porque sustento opinião abusada e solitária? Por modesta experiência de vida (o que talvez não signifique nada, mas me rende esse pensamento). Lá nos cafundós do sertão convivi com criação doméstica de porcos e galinhas. E a gente sabia que quando uma galinha tava com “gôgo” (resfriado de galinha que qualquer nordestino conhece) mais valia a pena sacrificar a penosa para não gripar todo o galinheiro. E se o galinheiro ficasse em “gôgo” mais valia a pena separar uns ovos pra iniciar outra criação de penosas. Aquela cepa ia ao sacrifício. O mesmo procedimento se adotava aos suínos que ficavam roucos do “oinc-oinc” e faziam uma coriza visível. Pois bem, nunca que essas gripes de galinha ou de porcos contaminou qualquer um de nós. Não que eu tenha notícia. Nem se iniciou pelo sertão uma peste de influenza destas!

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Se a gente tiver a curiosidade de chegar ao caso “zero” dessas epidemias, quase sempre o seu começo é encontrado na grande criação de abate industrial. Da espanhola eu não sei. Mas da aviária e da suína o início é localizado nos grandes abatedouros de grandes empresas, geralmente em países periféricos, onde não é necessário seguir as normas da vigilância sanitária. A do México começou num distrito proletário, hospedeiro de uma poderosa multinacional de carne suína e com condições sanitárias desumanas.
E a primeira coisa que se divulga é que comer a carne de animais doentes não transmite a doença, mas o salto darwiniano do animal ao homem é que explica a epidemia. Não estou me contrapondo a afirmação, mas ela defende a criação para abate de animais doentes. Como o capitalismo é predador e devoto do lucro não segue a prescrição nordestina de inviabilizar o galinheiro ou o chiqueiro. Resultado: ficam “futucando” os bichos com vara curta e o vírus cultivado pode saltar de lá pra cá. Tô exagerando?
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PS- Depois de escrever este texto leio nos jornais que a OMS desaconselha a ingestão de carne da animais contaminados pelo vírus. Segundo alega, não está afastado a contaminação de humanos por via oral. Mais complicado ficou, não?



(publicado originalmente na Casa Lima Barreto)

Um comentário:

Sandra Chaves disse...

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
[...]

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de boa dose de verdade e muita aspirina.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Aspirina é fácil de encontrar.
Sandra Chaves