terça-feira, 4 de dezembro de 2007

UMA REPÚBLICA NO MERCADO

Geraldo Borges (*)


Declaro a quem interessar possa que comprei uma república. Os vendedores disseram que a província tinha futuro. Muito bem. Dei uma nota preta por ela, libras esterlinas. Os ex-donos meteram os cobres nas algibeiras, e foram se divertir nos balneários europeus, com mulheres de luxo, e apostar alto nos cassinos.
Quando comecei a visitar os territórios da minha recém comprada república fui me dando conta que eu tinha feito uma tremenda burrada, para bem dizer, caído no conto do vigário Mesmo assim os governadores dos meus territórios tentaram me passar gato por lebre. Eu era recebido com fanfarras em cima dos coretos, pelotões de crianças fardadas, com bandeiras verde e amarelas tremulando. Embora os professores estivessem com seus salários atrasados. Comecei a ficar vexado. E a desconfiar do futuro de minha república.
A realidade era outra. Era preciso que eu fizesse alguma coisa o quanto antes. Pelo que eu estava vendo a minha república encontrava-se à beira do abismo. O que é uma república com escolas caindo aos pedaços, meninos analfabetos, professores com salários de fome? Uma caricatura. Uma monstruosidade. Descobri que a minha república estava cheia de aventureiros, piratas, novos ricos. Corruptos. Era preciso que se fizesse alguma coisa, urgente, para salvar o meu patrimônio, quer dizer, o patrimônio do povo.
O Congresso parecia um poleiro entregue as raposas, se bem que seus tapetes vermelhos, lustrosos, refletiam o exterior da falsidade. E o presidente da minha república? Um cara bonachão. Mas toda vez que eu o procurava, para conversarmos sob o destino do nosso país, ele estava voando, por alguma terra estrangeira. E pelo que observo pensa que é dono da minha republica, da nossa república, meu caro leitor..Precisamos fazer um monte de reformas, mudanças verdadeiras, estruturais, não só esse negócio de baixar juros, que é ficção. Não adianta ficar remendando aqui e ali em pano velho. Precisamos de odres novos.
. Estou sabendo que minha república está com suas estradas em petição de miséria, pontes danificadas, asfaltos cheios de buracos, forças armadas na pindaíba, quem quiser saber mais é só ler os jornais, as manchetes são de arrepiar. Ninguém está seguro, quem saí à rua não sabe se volta para casa, quem sobe o morro não sabe se desce...
Fui enganado. Disseram-me que eu ia comprar a mais rica república do hemisfério sul. Minha república tem muita abundancia, mas para a maior parte da sua população não abunda nada. Estou pensando que a melhor coisa que eu faço é passar essa república para frente.
Vou botar um anúncio de venda para me livrar de minha velha república. Mais ou menos assim: vende-se uma república, bem localizada, perto da linha do Equador, também conhecida como país do futuro.
Não demorou muito apareceu um comprador, vários compradores, era um pessoal do Norte, de fala esquisita, pareciam uns bárbaros, fiz um leilão. Eles tinham muito dinheiro. O último lance foi astronômico. Bati o martelo. E investi a bolada na bolsa.
Continuo morando por aqui, na minha casa de praia. Vou ficar observando os gráficos econômicos e sociais do desenvolvimento da minha ex – república.
Por enquanto ainda não descartaram o atual presidente, estão se dando bem com ele. É um homem simples, mas está ficando sofisticado, e parece que se dá bem com gregos e troianos. Mas todo mundo está vendo o seu calcanhar de Aquiles, e também sabem que ele está nu. Mas ninguém diz nada. Eu também vou me calar, antes que pisem nos meus calos..
____________________
(*)pra quem é do planeta, Geraldo Borges é nome reconhecido. Pelo menos pelos astronautas da periferia. Geraldinho - “o professor”- é contista, poeta, amante das letras e perdido no espaço. Foi encontrado como um “piauinauta” em órbita do pantanal. Fizemos contato com ele em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul

Nenhum comentário: