terça-feira, 4 de dezembro de 2007

BILHETINHOS PERDIDOS

Edmar Oliveira

Também tive meus segredos e escrevi bilhetinhos. Aliás, mandei-os aos quatro ventos. Não tenho nenhuma preocupação de alguém os achar, pois, na insignificância da minha existência, não interessa a ninguém. Talvez nem a quem foram endereçados. Se, nesta vida, não tenho uma preocupação é com a descoberta de qualquer coisa que escrevi em segredo. Talvez, tal descoberta só alegraria (ou envergonharia) a mim.
Mas não sei se vocês sabem que a iconografia histórica é feita de bilhetinhos e fofoquinhas. Aí é que o malandro, se personagem pública da história, é pego com as calças na mão. Joaquim Nabuco, que nos daria a melhor biografia de Pedro II não escrita, segundo José Murilo de Carvalho, desistiu porque não teve acesso aos segredos dos bilhetinhos, apesar de grande conhecedor da figura histórica. Até parece que na história, bilhetes, cartas e fofocas são mais constituintes de biografias do que a vida pública do personagem edificado.
Claro que vocês suspeitam que estou escrevendo após a leitura de Pedro II, do José Murilo . E se você não foi até lá, não tenho como encorajá-lo. A leitura é fácil, mansa e agradável. Mas o personagem é que não ajuda. Um cara legal, o imperador. Muito do camarada. Mas que se coloca na história muito “vai com as outras”. Mesmo que “as outras” sejam os inevitáveis fatos históricos. Você simpatiza com Pedro d’Alcântara, concorda que o Imperador era muito mais liberal que os republicanos, mas fica faltando algo. Como se o personagem fosse tão igual a você e por isso não se merecesse falar dele. Pronto, acho que achei o ponto principal do livro: mostra um Pedro tão igual a qualquer um de nós. Triste descoberta para quem gosta de heróis...
O extraordinário, e porque leituras precisam de um marco extra, fica por conta dos bilhetinhos do Imperador à condessa de Barral, amor que sobrevive a viuvez dos dois. E ficamos nos aquietando nas cadeiras para imaginarmos os velhos amantes discutirem a História do Brasil entre juras ultramontanas e liberais por onde o desejo possa ser colocado.
Só agora me ocorre que este lado da história fica prejudicado para sempre. Quem vai guardar os bilhetinhos mandados por e-mails entre os biografados do futuro? Precisamos dos serviços dos hackers, agora, sob pena da história não ser contada no futuro...

23/09/2007

Nenhum comentário: