desenho: Dino Alves |
(Edmar Oliveira)
Quando eu nasci Teresina ainda ia fazer 100 anos no ano
seguinte. Palmeirais, meu berço, nem tinha dez anos que deixara de ser Belém.
Sou filho de cidades novas. Quase contemporâneas. E nesta semana Teresina
aniversariou em dezesseis. Cidade menina. Parece um passarinho que troca de
penas ainda pela primeira vez.
Conheci cidades na Europa que conservam suas ruas e algumas
construções de muito antes dos portugueses chegarem por aqui. Mas Teresina está
abandonado o traçado geométrico que o jovem Saraiva imaginou, antes de virar
Conselheiro do Império. Oeiras, mesmo abandonada para dar lugar à nova capital
resiste no seu casario colonial centenário. Teresina queimou suas casas de
palhas antes de fazer 100 anos. E vai chegar ao segundo século absolutamente
irreconhecível no seu passado. Tem jovens que nasceram na cidade nova que nunca
puseram os pés na cidade velha.
Inexorável, Teresina atravessou o rio Poty para o leste e
esqueceu a cidade velha. A festejada ponte estaiada funciona como um portal
moderno que nos faz adentrar na cidade nova, o que para mim – que a deixei há
quarenta anos – não faz qualquer sentido. Sou contemporâneo da ponte metálica
que nos separava de Timon, da Avenida – que nem precisava chamar de Serafim –,
da Igreja das Dores, da Amparo, da São Benedito, da Pedro II, do Clube dos
Diários, da Rio Branco, da Estação, do Marquês, da Vermelha, da Piçarra, do
Poty Velho, do Mercado Velho, do Mafuá, da Vila Operária, do Porenquanto –
bairro de nome poético que era pra ser provisório e está perpetuado no esquecimento
da cidade antiga.
A minha saudade está esmaecendo e ficando sem lugar.
Quando Teresina aniversaria me lembro do poeta Lucídio de
Freitas:
Teresina
apagou-se na distância,
Ficou longe
de mim, adormecida,
Guardando a
alma de sol da minha infância
E o minuto
melhor da minha vida.
E eu sigo, e
eu vou para a perpétua lida.
Espera-me,
distante, em outra estância...
É a parada
da luta indefinida,
É a febre,
minha dor, minha ânsia...
Como são
infinitos os caminhos!
E como agora
estou tão diferente,
Carregado de
angústias e de espinhos!...
Tudo me
desconhece. Ingrata é a terra.
O céu é
feio. E eu sigo para a frente
Como quem
vai seguindo para a guerra..
4 comentários:
Nunca li nada tão real (e não menos doloroso) sobre THE.
Tristeresina - e olha que não é de hoje.
Migraram o cabeça de cuia pro Rio Poty.
Soube por aí que ele só fez de conta e que ali em cima da ponte - estaiada - não é ele, mas uma pedra.
Eu passei por aqui e até me vi, num post antigo. Agradeço. E dou um oi... tardio, mas caloroso. Bem B-R-O-Bró. ;)
Parabéns pelo retorno. Lembrei do rio Itapecuru, em Codó, pescando com garrafa a famosa "piaba".
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