domingo, 21 de agosto de 2016

ÁRIDO SERTÃO BELO



(Edmar Oliveira)

Devo a Chico Salles um encontro há muito desejado com Vladimir Carvalho, cineasta documental do sertanejo e do árido sertão belo na fotografia magistral de seus filmes (quase todas de seu irmão Walter). Há muito o admirava de longe e, paradoxalmente, era rodeado de amigos que o conhecia. Sabia que ele estava por perto, mas nunca o encontrara.

O homem chegou à Confraria do Botero numa noite de quarta. Cabelos brancos, esbelto, jovial, não aparentando o octogenário intelectual paraibano da obra exaustiva dos nossos “Conterrâneos Velhos de Guerra” – magistral documentário sobre os nordestinos construtores de uma Brasília faraônica, entre outros. Passei a ouvir as histórias de um comunicativo e simpático Vladimir, de memória prodigiosa e com a facilidade de fazer amigos. “O país de São Saruê”, obra primeira que fiou esperando dez anos a liberação de uma ditadura insana; “O Homem de Areia” e o contraditório no mito do autor de “A Bagaceira”, José Américo de Almeida; “O Engenho de Zé Lins” no desvendamento do autor de “Fogo Morto”; “O Evangelho segundo Teotônio” e a pregação democrática do alagoano; “Barra 68, Sem Perder a Ternura” sobre a invasão da UnB e do sonho de Darcy; o documento da geração da novacap em “Rock Brasília – a Era de Ouro” e ainda o inédito sobre Cícero Dias, sobre o qual estava passando um período no Rio para a sua finalização. E por esse filme que ainda não vi devo os dias em que passamos juntos.

Foram quatro longos encontros em que nos tornamos amigos de “desde pequenos” e tivemos tempo para nos conhecermos. Tive a ousadia de lhe presentear com o meu romance Terra do Fogo. Dele recebi o classudo inventário “Jornal de Cinema” – que estou devorando febrilmente – e um DVD com meia dúzia de curtas metragens com imagens preciosas. Vladimir ainda teve tempo de ir ao lançamento da Revestrés – a revista de cultura piauiense que foi trazida aqui para o Rio.

Do livro que ganhei do Vladimir ainda tinha um mimo em sua dedicatória sobre o meu Terra do Fogo, que reproduzo aqui. Porque tem dia em que a vaidade pode ser exibida por merecimento vinda de um ícone como Vladimir Carvalho.

Mais guardo dele a certeza de que continuará frequentando a Confraria quando voltar ao Rio. E já o espero com saudades!






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