domingo, 7 de agosto de 2016

TROPICAL MELANCOLIA



 
desenho: Gabriel Archanjo
(Edmar Oliveira)

Confesso meu desespero. Desde que esse governo interino – que já vem trabalhando como o definitivo, que será – assumiu, há muito pouco tempo, temos assistido a um voraz apetite para desmanchar todos os avanços sociais que tivemos. Com os ataques à CLT, aos aposentados, desmonte deliberado do SUS, da educação e da cultura, interrupção acintosa do Programa “Minha Casa, Minha Vida” para colocar os financiamentos da Caixa Econômica para imóveis da classe média alta, entre outras maldades, ficava me perguntando quando o povo reagiria a este desgoverno. Me perguntava quando a revolta necessária aconteceria.

Sei que a mídia tenta de todas as formas desinformar a opinião pública para que os mais atingidos não percebam o que estão perdendo, mas também sei que não se engana o povo o tempo todo e ansiava pela resposta a esse assalto aos direitos adquiridos que foram perdidos.

Uma série de acontecimentos me fazem supor que a revolta começou. Não como um protesto organizado ao governo interino, até porque não temos no momento quem organize o movimento. Quem oriente o movimento na direção do planalto central do país. E a revolta desorganizada tende a se organizar em torno de uma simbologia. E essa simbologia, me parece, foi direcionada à tocha olímpica no seu caminho percorrido no país na tentativa de manter acesa a chama dos deuses.  

Parece que o povo concentrou sua insatisfação com o dinheiro investido para fazer uma olimpíada em detrimento a recursos que poderiam ser investidos para a melhoria da situação do país. E concentrou na passagem da tocha olímpica essa insatisfação. Aconteceria com Dilma – que fazia um governo ruim – como com o governo atual, que retira direitos de forma galopante e autoritária. 

Enquanto a tocha percorria o país para anunciar que a maratona olímpica teria início, os acidentes de percurso foram num crescente. Primeiro, vaias. Como se quisessem dizer, primeiramente, fora Temer. Depois inúmeras tentativas de apagar a tocha com prisões e repressão por toda parte. Chegaram mesmo a conseguir o intento, que foi abafado na imprensa. Hoje as redes sociais noticiam – com imagens documentais – que roubaram a tocha olímpica em algum lugar de sua passagem. Também hoje as folhas não puderam calar um protesto em Angra dos Reis contra a passagem da tocha com forte repressão policial.

Me parece que, em todo o país, os protestos contra a tocha olímpica representam a insatisfação contra os desmandos que estão por aí. A tentativa de apagar a tocha pode acender o rastilho de pólvora da revolta popular. Pena que as esquerdas – ou os que se queixam em ser – estejam preocupadas com as disputas de eleições municipais, onde se digladiam entre si sem tentar uma aliança para direcionar o rastilho de pólvora. 

O povo demonstra sua insatisfação, o que não temos é quem organize o movimento, quem oriente o carnaval para que se inaugurasse um monumento no planalto central do país. Viva a banda, viva a bossa. E nós perdemos mais uma excelente oportunidade histórica. E no jardim os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis...




Um comentário:

Anônimo disse...

É exatamente isso, infelizmente. E assim seguimos em frente...pra onde?
Lelê