(Edmar Oliveira)
Confesso meu desespero. Desde que esse governo interino –
que já vem trabalhando como o definitivo, que será – assumiu, há muito pouco
tempo, temos assistido a um voraz apetite para desmanchar todos os avanços
sociais que tivemos. Com os ataques à CLT, aos aposentados, desmonte deliberado
do SUS, da educação e da cultura, interrupção acintosa do Programa “Minha Casa,
Minha Vida” para colocar os financiamentos da Caixa Econômica para imóveis da
classe média alta, entre outras maldades, ficava me perguntando quando o povo
reagiria a este desgoverno. Me perguntava quando a revolta necessária
aconteceria.
Sei que a mídia tenta de todas as formas desinformar a
opinião pública para que os mais atingidos não percebam o que estão perdendo,
mas também sei que não se engana o povo o tempo todo e ansiava pela resposta a
esse assalto aos direitos adquiridos que foram perdidos.
Uma série de acontecimentos me fazem supor que a revolta
começou. Não como um protesto organizado ao governo interino, até porque não
temos no momento quem organize o movimento. Quem oriente o movimento na direção
do planalto central do país. E a revolta desorganizada tende a se organizar em
torno de uma simbologia. E essa simbologia, me parece, foi direcionada à tocha
olímpica no seu caminho percorrido no país na tentativa de manter acesa a chama
dos deuses.
Parece que o povo concentrou sua insatisfação com o dinheiro
investido para fazer uma olimpíada em detrimento a recursos que poderiam ser
investidos para a melhoria da situação do país. E concentrou na passagem da
tocha olímpica essa insatisfação. Aconteceria com Dilma – que fazia um governo
ruim – como com o governo atual, que retira direitos de forma galopante e
autoritária.
Enquanto a tocha percorria o país para anunciar que a
maratona olímpica teria início, os acidentes de percurso foram num crescente.
Primeiro, vaias. Como se quisessem dizer, primeiramente, fora Temer. Depois
inúmeras tentativas de apagar a tocha com prisões e repressão por toda parte.
Chegaram mesmo a conseguir o intento, que foi abafado na imprensa. Hoje as
redes sociais noticiam – com imagens documentais – que roubaram a tocha
olímpica em algum lugar de sua passagem. Também hoje as folhas não puderam
calar um protesto em Angra dos Reis contra a passagem da tocha com forte
repressão policial.
Me parece que, em todo o país, os protestos contra a tocha
olímpica representam a insatisfação contra os desmandos que estão por aí. A
tentativa de apagar a tocha pode acender o rastilho de pólvora da revolta popular.
Pena que as esquerdas – ou os que se queixam em ser – estejam preocupadas com
as disputas de eleições municipais, onde se digladiam entre si sem tentar uma
aliança para direcionar o rastilho de pólvora.
O povo demonstra sua insatisfação, o que não temos é quem
organize o movimento, quem oriente o carnaval para que se inaugurasse um
monumento no planalto central do país. Viva a banda, viva a bossa. E nós
perdemos mais uma excelente oportunidade histórica. E no jardim os urubus
passeiam a tarde inteira entre os girassóis...
Um comentário:
É exatamente isso, infelizmente. E assim seguimos em frente...pra onde?
Lelê
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