(Edmar Oliveira)
Ela começou tímida pelo norte-nordeste, não fosse o episódio
da onça em Manaus e um médico cubano ser representante de uma cidadezinha do
meu Piauí. A onça foi sacrificada porque se irritou com o movimento e ficou
agressiva com seu tratador. Se tivessem prendido quem teve essa ideia de jerico
seria mais justo. O médico cubano fez por merecer a tocha e até uma querida prima
minha – popular artista da terrinha – carregou a tocha com muito orgulho. Mas
isso era só o começo.
De repente a população de cidades, por onde passava a tocha
olímpica, começou a ficar irritada tal qual a onça do Amazonas. Passaram a
vaiar a tocha. A vaia, essa manifestação democrática de insatisfação, parecia
querer apagar o brilho da festa. O povo estava depositando na tocha a
representação de gastos extraordinários na cidade olímpica em detrimento de
investimentos em equipamentos sociais, que passam por momentos de verdadeiro
abandono. Também no momento em que um governo ilegítimo retira direitos sociais
e garantias trabalhistas conquistadas desde Getúlio Vargas. Elegeu-se a tocha
olímpica como a culpada de tudo. A nossa gente sempre gostou de malhar o Judas.
Aí, antes de começarem os jogos olímpicos, o esporte
preferido na passagem da tocha era disputar quem conseguiria apagar a chama
sagrada dos deuses. E os atletas tentaram de tudo: extintor de incêndio, balde
de água, e até a areia que apaga fogo das castanhas quando se assa e acontece o “flambar” – pra não queimar demais. Muitos conseguiram, apesar das
televisões negarem as imagens de quem queria estragar a festa. Mas em tempos de
internet, muitos filmes foram parar nas redes sociais.
As redes sociais também testemunharam o revezamento extraoficial
do fogo sagrado. Uma senhorinha acendeu sua vassoura no fogo olímpico e saiu
desfilando em paralelo, com a torcida organizada que largou a tocha oficial
para correr atrás bruxa da vassoura, que ganhou em revezamento e sabe-se lá pra
onde levou o fogo sagrado. No Rio uma gincana olímpica com o fogo de uma tocha
improvisada fez revezamento de bebuns passeando pelos bares de Copacabana.
E aí o caldo engrossou com o roubo da tocha. Manifestantes
cercaram o desfile oficial, roubaram a tocha, que desapareceu nas ruelas de uma
comunidade. Aí a polícia reagiu, deu tiro de borracha, deu porrada, espalhou
gás de pimenta e o que era pra ser festa virou um campo de guerra.
Nada disso passou na TV, mas o melhor ainda estava por vir.
Cisão, apelido de Tarciso Gomes – popular figura carioca conhecida na noite com
seu saxofone – foi convidado oficialmente pelo COI para carregar a tocha. Nem
ele mesmo acreditou num primeiro convite, dado sua irreverência e gaitada conhecidas.
Mas o Comitê Olímpico Internacional insistiu e Cisão aceitou, deliberado a
aprontar mais uma de suas atitudes irreverentes. Quando carregava o sagrado
fogo emanado da tocha olímpica, deixou cair o calção para revelar uma devassa
calcinha de oncinha (talvez protestando contra a morte da onça amazônica) e a
frase da moda que escreveu na bunda: “Fora Temer”. A atitude inesperada durou
poucos segundos quando os seguranças da tocha acordaram. Tomaram a tocha e a
camisa olímpica do Cisão, que saiu correndo seguido por uma banda contratada
para a ocasião e uma pequena multidão entoando um “Fora Temer” olímpico. Cisão
soltava a sua gargalhada conhecida e o vídeo foi parar nas redes sociais.
Mas o avacalhamento ainda não tinha terminado. O prefeito
Eduardo Paes apareceu nos jornais segurando a tocha olímpica, desafiando
frontalmente uma determinação do COI. Desde o século XIX que um político estava
proibido de botar a mão na tocha olímpica para não misturar política com o
espírito olímpico. O Moleque Dudu rompeu a regra olímpica e batemos todos os
recordes de “Avacalhação da Tocha”.
2 comentários:
E que o Piauinauta tenha muitos anos de vida frente...desconfigurar faz parte de todo o processo da vida, que é para criar novas configurações, eu acho...sei lá, a vida é cheia dessas coisas...o Piauinauta é feito o Pasquim, um lugar pra respirar um pouco, no meio dessa contaminação toda...
Ah...esqueci de assinar o anônimo...rs
Lelê
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