(Geraldo Borges)
A escultura foi inventada pelos gregos e romanos, antes da
era cristã. Foi enterrada com as trevas da idade media. E depois
ressurgiu durante o renascimento com a proteção
dos mecenas da época. Atualmente a escultura é uma arte démodé. Já não há
espaço para a sua presença, a não ser as imagens trabalhadas pelos santeiros e
que ornamentam o interior das igrejas.
Hoje as grandes esculturas são testemunhas de um passado
glorioso da cultura europeia, e um patrimônio histórico da humanidade.
No Brasil o seu período áureo ocorreu em Minas Gerais, com o
aparecimento do Aleijadinho. O mundo inteiro conhece e reconhece as
figuras dos profetas talhadas em pedra
sabão, em estilo barroca. Não se elaboram mais esculturas como antigamente.
Mesmo assim, aqui e acolá, aparece uma escultura ocupando o
espaço publico.
Mas vamos ao assunto
dessa crônica. Um professor teve a ideia de inaugurar uma estátua em
homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. Tudo bem. Louvação. Vale a pena
a homenagem ao poeta. Mas o professor, com certeza, sabe que o poeta não liga
para esse tipo de elogio. Prefere ser lido, recitado, comentado. Talvez o professor não tenha conhecimento que no
século passado o poeta de Itabira, de um retrato na parede, recusou um convite
carinhoso para vir à Teresina. Convite esse feito pela Academia Piauiense de Letras na pessoa de seu
presidente Arimathea Tito Filho. Talvez o poeta não gostasse de academia Já o
velhinho, Austregésilo de Athayde, com quase cem anos, sem pestanejar, aceitou
o convite; era presidente da ABL.
Se o poeta estivesse vivo e a municipalidade lhe
agraciasse com uma estátua, sentada, num
banco solitário, pegando sol e chuva e caca de passarinho, com certeza, ele
recusaria, mesmo que fosse estadual ou federal. Um poeta que cantou
Charles Chaplin, que foi gauche na vida
jamais fiaria à vontade sob o peso de uma estátua. Uma charge, uma caricatura,
lhe cairia melhor.
Pensei muito, antes de escrevinhar essa crônica. Seria
melhor se estivesse ficado quieto no meu canto, sem me preocupar em dividir
opiniões, entre os graves e os frívolos. Talvez esteja assanhando um
formigueiro.
Acho que o distinto
poeta não merece ficar assim em forma de
estatua, de costa para o rio Poti. Talvez seja um castigo por não ter aceitado
o convite para vir à Teresina.
Não gosto de vaticinar, é coisa de poeta. Mas quem vai
vigiar o poeta, noite e dia, faça chuva ou faça sol, para que ele não se torne
vitima dos vândalos, a guarda municipal? As pessoas não vau enxergar o poeta.
Pois mal têm tempo de olhar para o semáforo. E talvez algum transeunte que nunca leu poesia o confunda com algum
político da província. Caso não desapareça vai virar ruina. Como muitas
outras esculturas estão virando no
espaço público da capital do Piauí, um espécie de terra de ninguém.
3 comentários:
ou talvez com essa estãtua do poeta maior, queiram ofuscar o daqui: tipo um torquato qualquer. é sempre assim: poeta de casa náo faz milagres!
Pelo menos assim, mato um pouco das saudades suas Geraldo Borges.
Pelo menos assim, mato um pouco das saudades suas Geraldo Borges.
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