domingo, 22 de março de 2015

Drummond e sua nova estátua


(Geraldo Borges)

A escultura foi inventada pelos gregos e romanos, antes da era cristã.  Foi enterrada  com as trevas da idade media. E depois ressurgiu  durante o renascimento com a proteção dos mecenas da época. Atualmente a escultura é uma arte démodé. Já não há espaço para a sua presença, a não ser as imagens trabalhadas pelos santeiros e que  ornamentam o interior das igrejas.

Hoje as grandes esculturas são testemunhas de um passado glorioso da cultura europeia, e um patrimônio histórico da humanidade.

No Brasil o seu período áureo ocorreu em Minas Gerais, com o aparecimento do Aleijadinho. O mundo inteiro conhece e reconhece as figuras  dos profetas talhadas em pedra sabão, em estilo barroca. Não se elaboram mais esculturas como antigamente.

Mesmo assim, aqui e acolá, aparece uma escultura ocupando o espaço publico.

Mas vamos ao assunto  dessa crônica. Um professor teve a ideia de inaugurar uma estátua em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. Tudo bem. Louvação. Vale a pena a homenagem ao poeta. Mas o professor, com certeza, sabe que o poeta não liga para esse tipo de elogio. Prefere ser lido, recitado, comentado. Talvez  o professor não tenha conhecimento que no século passado o poeta de Itabira, de um retrato na parede, recusou um convite carinhoso para vir à Teresina. Convite esse feito pela  Academia Piauiense de Letras na pessoa de seu presidente Arimathea Tito Filho. Talvez o poeta não gostasse de academia Já o velhinho, Austregésilo de Athayde, com quase cem anos, sem pestanejar, aceitou o convite; era presidente da ABL.

Se o poeta estivesse vivo e a municipalidade lhe agraciasse  com uma estátua, sentada, num banco solitário, pegando sol e chuva e caca de passarinho, com certeza, ele recusaria, mesmo que fosse estadual ou federal. Um poeta que cantou Charles  Chaplin, que foi gauche na vida jamais fiaria à vontade sob o peso de uma estátua. Uma charge, uma caricatura, lhe cairia melhor.

Pensei muito, antes de escrevinhar essa crônica. Seria melhor se estivesse ficado quieto no meu canto, sem me preocupar em dividir opiniões, entre os graves e os frívolos. Talvez esteja assanhando um formigueiro.

Acho que o  distinto poeta  não merece ficar assim em forma de estatua, de costa para o rio Poti. Talvez seja um castigo por não ter aceitado o convite para vir à Teresina.


Não gosto de vaticinar, é coisa de poeta. Mas quem vai vigiar o poeta, noite e dia, faça chuva ou faça sol, para que ele não se torne vitima dos vândalos, a guarda municipal? As pessoas não vau enxergar o poeta. Pois mal têm tempo de olhar para o semáforo. E talvez algum transeunte  que nunca leu poesia o confunda com algum político da província. Caso não desapareça vai virar ruina. Como muitas outras  esculturas estão virando no espaço público da capital do Piauí, um espécie de terra de ninguém.

3 comentários:

Administração disse...

ou talvez com essa estãtua do poeta maior, queiram ofuscar o daqui: tipo um torquato qualquer. é sempre assim: poeta de casa náo faz milagres!

Unknown disse...

Pelo menos assim, mato um pouco das saudades suas Geraldo Borges.

Unknown disse...

Pelo menos assim, mato um pouco das saudades suas Geraldo Borges.