domingo, 13 de julho de 2014

MINEIREICH


(Edmar Oliveira) 
Barbosa, o goleiro da seleção de 1950 morreu marcado não pelo orgulho que tinha de ser vice-campeão mundial, mas por ser culpado da maior vergonha nacional de termos perdido do Uruguai em pleno Maracanã inaugurado para a festa. No maior estádio do mundo, à época, acontecia a derrota conhecida por Maracanazo. Nem as cinco vezes que fomos campeões mundiais apagou o trauma e culpa colocada nos ombros de Barbosa, para diminuir o mérito uruguaio e aumentar a nossa derrota.

Após sessenta e quatro anos a Copa volta a ser disputada no Brasil e o Maracanã foi refeito na esperança de sepultarmos a tragédia, ganhando o hexacampeonato dentro de casa. Quando escrevo esta crônica, não sei ainda o que acontecerá no Maracanã entre Alemanha e Argentina. Nós, como ainda não queremos acreditar, caímos nas semifinais no Mineirão. Numa tragédia em que não podemos culpar um Barbosa, mas os onze Barbosas em campo e o Barbosão, que não soube fazer uma formação ou substituições que detivesse o massacre alemão. O Barbosão ficou impactado, como todos nós, com uma quantidade de gols em seis minutos, que mais pareciam ser um repeteco diferente do mesmo gol. Os alemães também não acreditavam na facilidade de penetrar no espaço brasileiro. Todos ficamos sem ação diante de algo que parecia inacreditável. Mas a tragédia do MINEIREICH propiciou o esquecimento do Maracanazo e libertamos a boa alma do generoso Barbosa. Não pela vitória, como queríamos, mas por uma derrota vexatória sem paralelo na história de todas as Copas.

O que teria acontecido naquele 7 a 1? Eu fico estarrecido com os comentaristas de futebol e a velocidade com que mudam de ideia para acompanhar o que se apresenta da caixinha de surpresas do futebol. Comentaristas que antes do jogo concordavam com as alterações propostas pelo técnico, logo após o resultado mudaram os seus argumentos para achar um novo Barbosa. Desta vez está difícil. Houve um apagão em campo, que não foi modificado pelo técnico. E que a nossa seleção era ruim, todos concordamos agora que Inês é morta.

Mas naquela terça-feira fatídica acordamos todos otimistas. Mesmo os que desconfiavam da seleção acreditaram na força da camisa amarela, no hino à capela, na camisa doze da torcida, na vingança de jogar por Neymar (tirado do time por uma entrada desleal do último inimigo vencido), na raça dos nossos guerreiros, que naquele dia finalmente o Fred ia jogar (apesar de que já era considerado o pior centroavante de todas as nossas seleções), entre outras esperanças e ilusões que o futebol nos proporciona. Não contávamos com a astúcia alemã e, como diria Garrincha, não combinamos com os gringos que teríamos que vencer. E a sensação é que tivemos um pesadelo e ainda não jogamos com os alemães. De fato não jogamos. Eles jogaram sozinhos.

Como não sou do ramo, e mesmo me considero um péssimo analista de futebol, prefiro acreditar na magia do futebol, suas alegrias e tristezas. E até compreendo mais as tristezas por ser um bom botafoguense. Mas a magia do futebol é a sua incompreensão, o seu fenômeno que a todos ilude. E força as discursões mais apaixonadas e incompreensíveis. O futebol é fenomenal. Um mesmo time que joga por música pode desarranjar na lógica.  E quando desarranja nada dá certo... A Alemanha jogou nos nossos erros. São melhores, mas podia ser o contrário. Vão dizer que não, teorizar. E aí fica mais fenomenal!

Eu só não sei é quando vai ser superado o Mineireich. Mas o Barbosa do Maracanazo agora descansa em paz!   

Um comentário:

Aderval Borges disse...

Inspiração para a atual seleção alemã segundo o técnico Joachin Low: as seleções brasileiras de 1970 e 1982, o Barcelona e a seleção espanhola da copa passada. Alemães melhoraram seu futebol nos imitando e nós desaprendemos o quanto jogávamos bem. Nosso futebol é reflexo dos nossos dirigentes medíocres, corruptos, safados. O futebol dos clubes nacionais está péssimo, a população perde interesse, cada vez menos jovens o praticam e o esporte se empobrece. Consequência natural. Precisamos recuperar o futebol do país, para longo prazo, talvez para obter resultados só daqui duas copas.