(Edmar Oliveira)
Meu amigo Geraldo Borges editou seu segundo livro pela Nova
Aliança, editora do Leonardo Dias que muito vem fazendo pela edição de autores
piauienses. É um alento ver tantos escritores tendo a possibilidade de editar
seus livros na nação Piauí. Mas vamos ao livro do meu grande amigo.
Estação Teresina, contos e crônicas deliciosas, nos conduz
no labirinto de um trem da memória de Geraldo, que, na ficção dos contos ou
fazendo a sua realidade nas crônicas, puxa o fio das recordações de quem viveu
em Teresina de ontem. Deixa o nosso trem de lembranças esmaecidas desembestar, lembrando
histórias que tomam contorno na janela da memória. É que o autor faz o nosso
trem parar em cada estação perdida no passado. De banalidades, como na crônica
“Aprendendo a andar de bicicleta” (onde ele não deveria dar um freio de
contra-pedal na crônica e em nossas aventuras comuns de se estabanar em tombos
necessários ao aprendizado daqueles tempos), ou na precisão magistral de “A
crônica de uma vida” (que nos faz acreditar que qualquer história comum pode se
transformar em um romance inusitado). Histórias de barbeiros, de alfaiates, de
briga de galos e canários, de gostosuras culinárias, tudo no contexto da
recuperação de memórias que foram perdidas numa cidade que mudou de lugar,
ficando sem futuro e perdendo o passado.
É disso que trata o Borges da minha terra: como um
costureiro alinhava com os fios da memória as lembranças que não pertencem só a
ele, mas a todos nós que vivemos a cidade que não mais existe. Mesmo que
Geraldo declare numa de suas crônicas que tirou sua barba para “estar fugindo
do espelho do meu passado”, em todo o livro eu o vejo de barba negra ou me
recordo desejando uma barba no meu rosto ainda imberbe. Porque todos nós
cultivamos uma barba naqueles tempos em que o trem do cotidiano apita lá na
curva nos chamando a ver o passado perdido no labirinto de outras ocupações de
nossa memória.
É disso que o nosso Borges se ocupa: de refazer em cada
estação da lembrança as histórias que existiram numa cidade que não mais
existe. Para os conterrâneos, leitura obrigatória. Mas para os que não
conheceram a Teresina do título do livro é provável que o trem do cotidiano do
passado de cada um possa desviar o trem da estação do título e leva-lo a sua
cidade imaginária. Pois, no fundo, o que o Geraldo insiste nas páginas do livro
é o cerzir da memória, ela mesma ameaçada pelo esquecimento, como ele revela
num prólogo em que cita Buñuel. Nesse sentido cada leitor, independente de por
onde trilha o trem de sua memória, pode ser um companheiro da viagem de
Geraldo. E um passageiro privilegiado.
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piauienses, inclusive os meus) entre no site:
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