domingo, 27 de julho de 2014

ESTAÇÃO TERESINA - o trem do cotidiano


(Edmar Oliveira)
 
Meu amigo Geraldo Borges editou seu segundo livro pela Nova Aliança, editora do Leonardo Dias que muito vem fazendo pela edição de autores piauienses. É um alento ver tantos escritores tendo a possibilidade de editar seus livros na nação Piauí. Mas vamos ao livro do meu grande amigo.

Estação Teresina, contos e crônicas deliciosas, nos conduz no labirinto de um trem da memória de Geraldo, que, na ficção dos contos ou fazendo a sua realidade nas crônicas, puxa o fio das recordações de quem viveu em Teresina de ontem. Deixa o nosso trem de lembranças esmaecidas desembestar, lembrando histórias que tomam contorno na janela da memória. É que o autor faz o nosso trem parar em cada estação perdida no passado. De banalidades, como na crônica “Aprendendo a andar de bicicleta” (onde ele não deveria dar um freio de contra-pedal na crônica e em nossas aventuras comuns de se estabanar em tombos necessários ao aprendizado daqueles tempos), ou na precisão magistral de “A crônica de uma vida” (que nos faz acreditar que qualquer história comum pode se transformar em um romance inusitado). Histórias de barbeiros, de alfaiates, de briga de galos e canários, de gostosuras culinárias, tudo no contexto da recuperação de memórias que foram perdidas numa cidade que mudou de lugar, ficando sem futuro e perdendo o passado.

É disso que trata o Borges da minha terra: como um costureiro alinhava com os fios da memória as lembranças que não pertencem só a ele, mas a todos nós que vivemos a cidade que não mais existe. Mesmo que Geraldo declare numa de suas crônicas que tirou sua barba para “estar fugindo do espelho do meu passado”, em todo o livro eu o vejo de barba negra ou me recordo desejando uma barba no meu rosto ainda imberbe. Porque todos nós cultivamos uma barba naqueles tempos em que o trem do cotidiano apita lá na curva nos chamando a ver o passado perdido no labirinto de outras ocupações de nossa memória.

É disso que o nosso Borges se ocupa: de refazer em cada estação da lembrança as histórias que existiram numa cidade que não mais existe. Para os conterrâneos, leitura obrigatória. Mas para os que não conheceram a Teresina do título do livro é provável que o trem do cotidiano do passado de cada um possa desviar o trem da estação do título e leva-lo a sua cidade imaginária. Pois, no fundo, o que o Geraldo insiste nas páginas do livro é o cerzir da memória, ela mesma ameaçada pelo esquecimento, como ele revela num prólogo em que cita Buñuel. Nesse sentido cada leitor, independente de por onde trilha o trem de sua memória, pode ser um companheiro da viagem de Geraldo. E um passageiro privilegiado.

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OBS: para adquirir o livro (e outros de escritores piauienses, inclusive os meus) entre no site:

http://www.entrelivroslivraria.com.br/

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