domingo, 4 de maio de 2014

profissão em Alta

Edmar Oliveira

Andando pelas ruas da zona sul do Rio de Janeiro você pode se deparar com um cara, ou uma cara, tentando conduzir, ou ser conduzido, por uma porção de cães. A primeira coisa que chama atenção é que o condutor, ou condutora, desses cachorros sai “pastorando” umas tantas raças diferente desses animais. Tem os totós muito pequenos, que são quase pisoteados pelos enormes, tem os mansos e os valentes, os que querem ir e os que empacam, quando não querem voltar. Você pode imaginar a aflição do responsável por essa irresponsabilidade na via pública?

            Outra característica da cena em questão é que o homem ou mulher condutores são muitos menos cuidados do que os conduzidos. Os cães são penteados, de coleira, cheirosos, bem vestidos, enquanto os humanos da profissão são muito mais maltratados. E ainda ficam em desespero tendo que apanhar bosta dos cagões, atividade sempre contagiosa no grupo de totós. E é um grande saco de lixo preto cheio de merda que o condutor carrega consigo, amarrado à cintura, já que as mãos estão ocupadas com tantas coleiras.

            E quando dois ou mais cães resolvem brigar, aí a atividade fica muito mais complicada. Já vi cenas em que o humano quase sucumbe no meio dos cães e eu ficava torcendo para que ele soltasse aqueles bichos nervosos. Mas o homem tinha que fazer o seu trabalho.

            Pois é, essa é uma profissão em alta na zona sul do Rio de Janeiro: “passeador” de cães! O profissional recolhe os cachorros nos apartamentos e junta todos para um passeio matinal que termina numa homérica cagada coletiva. E aqui o “politicamente correto” instituído obriga o profissional a recolher a merda dos cães para que não fiquem nas calçadas esperando um pé desprevenido.

            Fiquei a imaginar o que produzia a expansão dessa atividade. Geralmente o humano apegado ao seu cão sabe da obrigação de fazer o passeio matinal para a cagada diária. Ainda encontro uma ou outra madame, ou madamo, nessa atividade solitária. Seria o envelhecimento dos donos de cachorros que estaria incrementando a profissão do passeador? Seria um cansaço dos donos e a melhoria da situação econômica que puxou esse novo negócio?

Mas bem que podia ser a vergonha da exposição de tal situação. Tenho um amigo que filosofa dizendo que ao ver um humano solitário segurando a coleira do seu cão, aquele cara que só fala com o seu cachorro e mais ninguém, tem a impressão que essa é a última etapa da degradação humana. Meu amigo filósofo diz que um ser solitário que só vive para seu cão acabou enquanto humano. Há controvérsias. E pode ter exceções, mas que a tese é consistente, lá isso eu acho...        

Nenhum comentário: