domingo, 18 de maio de 2014

O modo PMDBista de governar


(Edmar Oliveira)
 
Gostemos ou não, a política faz parte da nossa vida e, de certa forma, nos governa. E cada um, governado pela sua ideologia política, deve resultar na maioria que governa uma nação. E eu só gosto da democracia porque ela permite que a minoria se manifeste. Pois eu, quase sempre, faço parte da minoria.

E, por mais que não gostemos, são os partidos que nos representam numa democracia. Cada qual com o seu, com as qualidades e defeitos inerentes de cada um. Até acho que temos partidos em demasia. Cinco ou seis já davam para cobrir o espectro político.

Mas não é só a quantidade de partidos que nos trazem problema, a qualidade deles e a clara explicitação da “missão” de cada um já ajudaria. Não é assim que acontece: quando o Partido dos Trabalhadores tem Sarney, Barbalho e Renan como aliados, a “missão” desse partido já parece desvirtuada. Quando num partido “socialista” tem Heráclito e Bornhausen, a “missão” socialista já se foi pras picas. Quando um presidenciável de um partido que se diz socialdemocrata apoia abertamente o agronegócio o caráter neoliberal aparece desavergonhadamente.

A ditadura tinha fingido brincar de democracia com dois partidos: Arena e MDB. A gente dizia na época: o partido do “sim” e o do “sim, senhor”. Quando a ditadura acabou a Arena virou um irônico Partido Social Democrata, que depois pariu o Partido Popular e o Partido da Frente Liberal, numa alcunha mais condizente com o ressurgimento do liberalismo. Emprestou seu caráter ao neoliberalismo tucano e depois trocou de roupa mais uma vez para voltar a ironia e se chamar Democratas. Deles restam o dono do PP, o senhor Dorneles, os herdeiros do carlismo na Bahia, uns poucos Agripinos no Rio Grande do Norte e a loucura do Cesar Maia no Rio. O resto desertou findando a Arena e se travestindo de democratas em outros partidos.

O MDB, que foi criado para fingir uma oposição ao partido oficial dos militares, virou o atual PMDB. Que, apesar da importância de um Ulisses Guimarães, foi com Sarney, Renan, Barbalho e outros oportunistas que formou o seu DNA. E no seu gene está inscrito a mutação camaleônica para não apear do poder. Tanto assim que numa disputa mais dura entre tucanos e petistas uma raposa vaticinou: “não se sabe quem vai ser o presidente, mas o líder do governo já tá definido que será o Romero Jucá do PMDB”. E acertou. Quem era líder do governo tucano mudou de lado para ser líder do governo petista. E de tanto não saber se estava à direita ou à esquerda, o PMDB se tornou um camaleão com apetite de fazer da política uma maneira de enriquecimento sem escrúpulos. E já desde muito tempo, lá atrás, ele vem sendo o partido por trás (e pela frente) dos escândalos. 

E aí o PMDB emprestou o seu “know-haw” aos partidos a quem se aliou: aparelhamento das empresas através dos cargos comissionados com o objetivo explícito de enriquecer os aliados. Agora mesmo um deputado do partido dos trabalhadores foi ouvido numa escuta falando com o interlocutor que a “operação” em que estavam envolvidos faria a independência financeira dos dois. Com dinheiro público, que o escândalo de amanhã nos faz esquecer o escândalo de hoje, assim caminha nossa “política”.

E não adianta tirar a Dilma da presidência, pois as opções que se apresentam são ainda piores. E o PMDB vai se aliar a quem ganhar para ensinar o “know-haw” do caminho curto de enriquecimento, desmoralizando quem quiser ter objetivos diferentes. O PMDB igualou todos os partidos a quem se aliou.

Eu só vejo uma saída para salvar a política do país: expulsar o PMDB do romance político, quase uma solução de como Oswald de Andrade expulsou o personagem Pinto Calçudo do romance João Miramar. E cassar qualquer político, de qualquer partido, que apresente um comportamento PMDBista. Fora disso o modo de governar PMDBista contaminará a todos os partidos e não haverá esperança neste país.     

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