(Edmar Oliveira)
Quando minha filha mais velha era pequena tentei ensinar-lhe
como as galinhas eram criadas no quintal e como nos serviam de alimentação no
passado. Nem contei das galinhas de granja criadas pro abate. Foi traumático, a
menina ficou sem comer frango por uns tempos e eu fiquei entendendo que ela
achava, antes da minha história, que galinhas nasciam nas prateleiras do
supermercados. Nem me atrevi falar do milho da pipoca, que ela podia ficar com
dó da espiguinha verde, fazendo um paralelo com o Visconde de Sabugosa.
Lembrei da história quando as manchetes anunciaram que
cientistas tinham feito um hambúrguer a partir de células tronco de músculo de boi.
As células se desenvolveram em tubos de ensaio, cresceram sem gordura alguma e
a palidez foi avermelhada com corantes para representar a morte do boi que não
houve. A pompa do experimento convocou uma chef gourmet para provar a iguaria
artificial que custou a bagatela de setecentos reais. Não foi o preço salgado
que fez a cara da chef fazer caretas, acho que o gosto que ela provou era mesmo
ruim. O cientista responsável pelo experimento disse que tinha feito carne
moída das células tronco, por ser mais fácil, mas que em breve seria possível
fazer um bife para um churrasco.
Fiquei assustado, mas ao mesmo tempo aliviado pela idade que
já carrego. Eu não quero viver num mundo em que a comida é produzida em
laboratório, só precisando de uma vaquinha reprodutora de células tronco para
abastecer o açougue. Já tinha ficado escandalizado quando soube que o chester é
criado num cercado, porque não pode andar. A mutação genética faz a carne do
peito ser muito desenvolvida e as pernas não sustentam o peso. Fazer um fígado
gorduroso para obter o “foie gras” do ganso já é crime hediondo desde a antiguidade.
As sementes já estão na mão da “Monsanto” e sua reprodução é controlada
geneticamente.
Agora, aquele hambúrguer de laboratório foi demais. Eles
fornecem umas células tronco e os açougues do futuro vendem uma carne que veio
de um boi antepassado que pode ter morrido um século antes.
Minha avó quando ganhou uma geladeira serviu para ser
armário da cozinha. Nunca ligou a bicha. Ela gostava de ver as frutas
amadurecerem na fruteira em cima da mesa. E carne, só se boi tivesse sido
matado naquele dia, que de madrugada ela já estava no mercado do Cajueiro
esperando seu bife do almoço. Ela dizia que a geladeira não deixava a natureza
agir e o ser vivo ficava impedido de maturar normalmente. Mas carne de ontem
ela não comia, de jeito nenhum, só se fosse seca e salgada ao sol. E eu queria
ver era eles fazerem carne de sol no laboratório!
Minha avó não viu o hambúrguer de ensaio, mas eu vi por ela
e repito o que ela diria: Ô povo doido, sô!
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Na montagem: resumo do processo. A "eca" sendo feita e a cara da chef provando o hambúrguer artificial.
Um comentário:
Pra mim esse hamburger teve uma serventia. chamar atencao para outras tantas mutacoes geneticas que silenciosamente caem no nosso prato dia. apos dia. Mesmo no dos vegetarianos. Como diria minha filha: ECA!
Elena Camarinha
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