domingo, 20 de janeiro de 2013

METAMORFOSE NUMA FOTO DO PAULO


Lembro de um poema do Climério em que ele lamenta a sua Teresina que não mais existe. Mas a minha sensação não é poética. É trágica, como a foto do Paulo Tabatinga. Dizem que o fotógrafo tem a capacidade de deformar a realidade e, quando bem bom, de até criá-la. Tem uns em que a foto vira uma obra de arte até independente da realidade existente.

Mas juntando tudo isso essa foto do Paulo me assustou como percebo Teresina cada vez que a visito. O quantitativo das sensações, a sua historicidade, a junção de imagens que eu juntava vagarosamente no tempo, aqui se apresenta de forma trágica.

Eu e minha geração vivemos uma Teresina que existiu entre os rios Parnaíba e Poty. Pra lá do Poty tinha uma ponte, no final da Avenida Frei Serafim, que nos levava para umas chácaras distantes e a estrada de Altos com ligação ao litoral e ao Ceará. Mas longe mesmo se ia comer uma coalhada em Altos ou, um pouco mais acima, uma carne-de-sol de Campo Maior.

A cidade do Conselheiro Saraiva foi feita entre os dois rios. Toda quadradinha, com quarteirões de exatos cem metros, limitada no seu núcleo urbano pela antiga Estrada dos Bois, depois Avenida Circular e hoje Miguel Rosa. A espinha dorsal da cidade, a Frei Serafim, dividia as ruas entre a parte norte e sul. E eu, que sou da zona norte, não conheci muito a zona sul, como seus habitantes não vinham até nós. Depois do Barrocão pra lá ainda é um mistério pra mim. Mas da Avenida (singular, como chamávamos a Frei Serafim) pro rumo norte eu conheça tudo até a vila do Poty Velho (e além, na Santa Maria do Cogipi), passando pela Matinha, Porenquanto, Vila Operária, Mafuá, Matadouro, Baixa da Égua, entre outros. Os Bairros começavam depois da Avenida Circular. Até lá era a Cidade. Recordo que minha mãe saiu da Campos Sales, no centro da cidade (como ela dizia) para morar no Porenquanto (ponta de rua, no seu linguajar depreciativo).

Pois bem, de uns tempos pra cá o progresso atravessou o Poty com várias pontes, fizeram até uma ponte estaida para desbancar a ponte metálica da cidade velha do seu trono. E os prédios brotaram da terra assustadoramente. A cidade mudou de lado e a antiga Teresina, do lado de cá, foi abandonada. Desvalorizou-se e foi entregue aos seus teimosos habitantes que têm uma raiz mais profunda e os mais desvalidos ocuparam seu centro à noite. A especulação imobiliária é um monstro, como nos mostra a foto do Tabatinga. Já atravessou pro lado de cá e ameaça tomar o lugar das casinhas espremidas pelo progresso galopante.

Não é assim que se apresenta a cena na foto do Paulo?

(Edmar Oliveira)

4 comentários:

José María Souza Costa disse...

Passei por aqui lendo, e, em visita ao seu blog.
Eu também tenho um, só que muito simples.
Estou lhe convidando a visitar-me, e, se possível seguirmos juntos por eles, e, com eles. Sempre gostei de escrever, expor as minhas idéias e compartilhar com as pessoas, independente da classe Social, do Credo Religioso, da Opção Sexual, ou, da Etnia.
Para mim, o que vai interessar é o nosso intercâmbio de idéias, e, de pensamentos.
Estou lá, no meu Espaço Simplório, esperando por você.
E, eu, já estou Seguindo o seu blog.
Força, Paz, Amizade e Alegria
Para você, um abraço do Brasil.
www.josemariacosta.com



Anônimo disse...

Pior é que esta realidade teresinapolitana, não sei se posso chamar assim, está se confirmando em todo Brasil. E não é saudosismo não. Até o meu Chabocão crescendo prá cima.
A cultura nacional foi para o brejo, infelizmente.
Chico Salles.

Carlos Nascimento disse...

Caramba! Caramba! Caramba! Magnífico!

GISLENO disse...

Por que eu tenho sempre que provar ve que não sou um robô?!?!?!