domingo, 6 de janeiro de 2013

Calor do fim do mundo



Edmar Oliveira
 
Termômetros no Rio de Janeiro foram aos 50°. A sensação na rua era de morte iminente por tão abafado e ardente se encontrava o ar. Falaram em temperatura senegalesa, seja lá quão quente seja essa parte da África que não conheço. Comparações com o Piauí só uma piadinha de que o clima assim estava por ter chegado uma frente fria da nossa terra.

Em Teresina já andei em zig-zag nas ruas procurando uma pontinha de sombra, que fica difícil ao meio dia. Já esperei ônibus em fila indiana aproveitando a sombra do poste. A gente localiza um botequim pela quantidade de chapinhas que entraram no amolecido asfalto e faz um tapete brilhante no sol ou na luz do poste. A imagem deforma na rua, lá no horizonte, pela evaporação da água que cozinha o asfalto. O teresinense tem mania de caixa d’água para esfriar a água que sai de um cano quente na rua. Moleque nenhum senta na escadaria da São Benedito com medo de fritar os ovos. Contam que a carne seca é boa porque basta matar o boi. E ainda tem a história de um plantador de uvas no quintal que encaixotava passas tiradas do paireiral.

Podem até contar mais histórias, mas o inferno que se transformou o Rio neste final de ano não tem igual, impressão de um legítimo filho do calor. Já completei trinta e seis anos de Rio de Janeiro e assistindo os invernos cada vez mais fracos e os verões cada vez mais insuportáveis, mas este, na passagem de ano, foi o mais quente. Tão quente que parecia que a gente entrava numa sauna ao sair à rua e, como virou piadinha na internet, só se podia respirar normalmente com ajuda de aparelhos: ventilador ou ar condicionado. Quem foi à praia só suportava dentro d’água e reclamava ainda no calçadão. Os bares na calçada, mania carioca, tiveram que entrar para o ar refrigerado. A sensação nas estações de metrô era de um forno de assar pizza. Um amigo me mandou a foto de um enfeite de natal: uma vela derretida que tombou do castiçal, que broxou tão melhor que ele, completava.

E eu, criado em Teresina, pensei que o mundo estava acabando, apenas com um retardo na profecia, e a gente assando feito um peru do Natal. 
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Rio 50°: foto que circulou na internet. Vela azul broxante no natal: Cândido. 

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