domingo, 6 de janeiro de 2013

O Menino e a Melancia

           Geraldo Borges
 
Hoje fui à feira e comprei uma melancia. Vi um menino que andava ali por perto com o carrinho de mão e perguntei a ele se poderia  deixar a minha melancia lá em casa. Não ficava longe. Apenas cinco quarteirões.  Acertamos o preço.

 O menino  botou a melancia dentro do carro de mão. E eu o acompanhei dizendo por onde ele deveria ir.

 O menino tinha uma barriga grande, uma bacia. Semelhante  a melancia que ele carregava.

Perguntei lhe se tinha  pai, mãe, irmã, se estudava.

Respondeu-me que tinha pai, tinha mãe. Mas os dois eram separados. Não tinha irmãos. Era criado por seu padrinho. Ele lhe dera aquele caro de mão para fazer serviço na feira.

O menino chegou em minha casa, cansado. A melancia era grande. Ele teve que abraçá-la para tirá-la de dentro do carro. Mas não sei lá por que a melancia  escorregou de seus braços de cambito e caiu no chão, espatifando-se.  Foi água para todos os  lados. Eu disse, porra.

 O garoto fez uma cara de amargura. E um riso besta. Como se fosse perder  o dinheiro do serviço.

 As vísceras da melancia, brilhavam  na calçada, escancaradas.  Senti que o menino estava doido para pegar  um  pedaço e começar a  matar a sede.Pois o sol estava escaldante e ele suava muito.

 Para incentivá-lo peguei um pedaço e disse pegue outro. Está bem doce. Ele pegou.

 - Bote  o resto no  seu carrinho,  E está aqui o dinheiro do frete.

 O menino olhou para mim com os olhos de gente grande, e me disse.

- Não senhor. Não precisa pagar não. Eu quebrei a sua melancia.

- Mas você não teve culpa. Não se incomode. .

 O menino pegou   os pedaços da melancia, botou dentro do carro, e se encaminhou para a feira.

Eu entrei em minha casa pensando. No tempo em que eu era menino  meu pai plantava melancias, mas as melancias eram miúdas, não se comparam as melancias de hoje, tão grandes e pesadas que  muitas vezes são vendidas aos pedaços.

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