Natal é uma cidade em que chove raramente. E o sol desponta às quatro e meia te convidando à praia. Como tenho ido ali em demasia, testemunhei uma chuva. Na minha terra, chuvisco. Já à noitinha uma garoa se arrisca a cair do céu, quando nuvens enganam o sol que nunca sai do firmamento enquanto a lua não vem. Os pingos se atrevem a sair miúdos, como a pingar do bico de um regador em ventania: chove mais em vertical que na horizontal. E logo não há mais chuva.
As nuvens não se aquietam no céu pela ventania do tempo. O mar se encrespa desenrolando na areia devagar. Na preguiça nordestina. O sol se levanta cedo demais, mas demora muito mais a ir ao meio do céu. A manhã é muito comprida em Natal. Você caminha na orla, mergulha ao mar, enjoa do sol, vai à cerveja com camarões, passeia no artesanato potiguar, almoça carne de sol com jerimum, ou camarões e macaxeira, ou uma peixada com queixo coalho, ou mistura tudo depois de ter provado uma tapioca com ginga na Redinha. E deita na rede pra cochilar pensando em quanto a vida pode ser devagar para se viver um pouco mais.
E percebe que o que parece um mês em qualquer lugar nem sequer é um meio de dia em Natal. À tarde, o quê fazer? – Ai, que preguiça! – diria Macunaíma. O sol se espreguiça na tarde, o cajueiro de Potengi faz mais uma rama, a rota do sol se ilumina em Búzios, nas lagoas, que são atravessadas num braço de mar rumo a Timbau: - Meu Deus, que lindo! O paraíso foi organizado nessa lagoa de aluá. O por-do-sol se esconde dentro dela. A noite chega, muito devagar, que se podem sentir pedaços do dia no claro e outros em escurecer. Como que se atravessar do dia pra noite fosse uma decisão minha e não do tempo.
Amanhã começa tudo de novo, como se o paraíso pudesse ser recriado...
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foto: por-do-sol em Timbau do Sul (edmar)
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