Edmar Oliveira
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O Capitão Nascimento saiu da tela do cinema, convocado que foi pelo governador Sérgio Cabral, para comandar a invasão do Complexo do Alemão. Assumiu a missão após a debandada dos bandidos da Vila Cruzeiro correndo a esmo, ao vivo e com aplausos de transeuntes nos shoppings e lojas de TV. Aquela ação na Vila Cruzeiro havia sido comandada pelo aspira André que morrera no último filme de cinema e estava liberado para a ação real.
Quando o Nascimento assume o comando das tropas, ordena uma ação politicamente correta, que aprendeu com o deputado Freixo, para não repetir as atrocidades do primeiro filme.
- Quero atenção com a comunidade. Só vale estapear bandido. Chega na porta gritando "Pede pra sair"! - e o capitão ainda se preocupava com os policiais corruptos que já começavam a saquear os comunitários - "se eu vejo um merda desse lambendo sua caceta, eu boto pra fora do Bope num tapa".
As velhinhas beijavam o Capitão, que, com as crianças no colo, comandava a tropa.
- Sobe a viela, mete o pé na porta. Não tá vendo que essa é casa de marginal disfarçado de morador?
O pessoal aplaudia, uma velhinha se acocorou demoradamente por causa do reumatismo, mas escapou dos tiros, que o Padilha mandou filmar em câmara lenta. O Capitão Nascimento comandava a tropa arrodiado de crianças que faziam uma algazarra brincando de Bope. Em duas horas e meia o Complexo do Alemão foi retomado pelas forças do bem.
Vinte e quatro toneladas de maconha, duzentos e cinquenta quilos de cocaína, armamento pesado e farta munição. Casa a casa foram revistadas. Os bandidos evaporaram. Mas a tropa entregou ao Nascimento duas cabeças do tráfico. Um menino de dezoito anos tão assustado que denunciava a culpa de ter aterrorizado a população indefesa e um garoto de vinte anos no qual as tatuagens denunciavam a culpa: "Fernandinho Bera Mar", "Maconha só de boldo" e "Eu cheiro" entre outros. Nascimento exibia o troféu enquanto a câmara do Padilha transformava as tatuagens em legendas.
- Pede pra tirar! - gritava o Capitão querendo arrancar àquelas inscrições à tapa.
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Um Papai-Noel que saia pra trabalhar olhava a cena e imaginava o que leva um moleque marcar o próprio corpo com a falta do futuro. O Papai-Noel, de natais passados desistia. Aquele menino não tinha passado, presente ou futuro, e, se era culpado por ameaçar nossas vidas, como exibia a televisão ao vivo, nós já tínhamos tirado a sua vida. E pra quem não tem nada, nem mesmo a vida, não há presentes de natal.
Papai-Noel voltou pra casa na comunidade e o jingo bell se transformou na música dos caveiras.
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