domingo, 5 de dezembro de 2010

João Pessoa



Edmar Oliveira




Surpreendente a pequena João. Se a Paraíba é macho, sim senhor, João Pessoa é feminina. Da bela lagoa do Parque de Lucena as ruas partem em direção ao mar. E chegam logo. No centro histórico a conservação arquitetônica e o conjunto católico de São Francisco é de uma beleza colonial, conservada desde muito antes de mudar de nome para o mártir que provocou a revolução de 30.


A orla se desdobra em praias maravilhosas ao norte e ao sul. A ponta do Seixas, com seu farol modernoso numa arquitetura de gosto duvidoso de um general da ditadura militar indica o ponto do território nacional mais próximo da África. Onde o sol nasce primeiro. A cultura nordestina se impõe em todos os lugares. Até na praia os repentistas do cordel se oferecem no seu improvisar em sete versos, que é a forma cantada do falar paraibano, mostrando o orgulho de ser nordestino.





O hotel Tambaú, outro crime arquitetônico fincado na areia do mar e dentro d’água pela arrogância dos anos de chumbo, ficou bonito e se tornou um símbolo da cidade. E é interessante testemunhar a grandiosidade de concreto armado com que o Sérgio Bernardes desafiou Niemayer. Mas é impagável testemunhar a modernidade dos anos sessenta ser açoitada pelo mar na maré alta. E singular o estacionamento dos barcos dos pescadores no fim da tarde trazendo o pescado ao mercado do peixe.


A culinária do sertão é exuberante na João Pessoa. Carne de sol na nata com arroz de leite e feijão verde em caldo farto é muito bom. Mas os pescados são de botar água na boca também.


Agora tem um passeio imperdível no fim da tarde: o pôr-do-sol do Jacaré. Vá até a praia fluvial do jacaré, no rio Paraíba, que fica no caminho de Cabedelo e espere o relógio marcar cinco e dez da tarde. Jurandir do Sax aparece como mágica numa canoa e de pé sobra o bolero de Ravel que é transmitido para os amplificadores de todos os bares e restaurantes. E neste inusitado surreal o sol se põe embevecido pela sonoridade do Jurandir. Absolutamente sensacional sem qualquer tom de breguice, como quem ainda não viu pode imaginar.


Para quem é do mar tem ainda o passeio de jangada aos arrecifes que se fazem terra firme na maré baixa. Mas como quem é do mar é regido pelo calendário lunar da tábua das marés, tem uma fase da lua que eles não aparecem. Na vez que fui eles não apareceram.


Hoje trago um abraço pra ti, pequeninha. João Pessoa ainda vai ser descoberta como já foi Fortaleza e Natal. E aí vai ficar menos bonita.


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