quinta-feira, 6 de março de 2008

Salgado Maranhão

Geraldo Borges

Caso fosse aluno do professor Luiz Romero, gostaria de lhe pedir licença, e, em seguida lhe fazer uma pergunta: qual o critério que usou para falar sobre literatura piauiense e dizer que alguns escritores fazem parte dessa literatura. Como, por exemplo: Salgado Maranhão, que nasceu em Caxias, Morou algum tempo em Teresina, mas nunca publicou um livro de poesia no Piauí, que eu saiba. Hoje mora no Rio de Janeiro, é muito mais conhecido por lá do que por aqui; muitas de suas poesias são letras de músicas; pois além de poeta é letrista, já participou de antologias nacionais. Tem alguns poemas publicados na revista Encontro da Civilização Brasileira, que saiu de circulação. È acima de tudo um poeta brasileiro que saiu do Piauí muito cedo.

Se os críticos literários e os estudiosos da literatura piauiense se acham no direito de registrar Salgado Maranhão como poeta piauiense Tudo bem. Mas é preciso mais explicação. Salgado Maranhão gosta do Piauí. Mas não acredito que tenha interiorizado poeticamente a cidade de Teresina a ponto de expressa-la como Drummond fez com a sua cidade quando disse: Hoje Itabira é apenas uma fotografia na parede, mas como dói. Pode até ser que Salgado Maranhão tenha alguns poemas sobre Teresina. Eu não conheço.

Conheço da Costa e Silva, com a sua poesia que fala da cidade de Amarante e do rio Parnaíba, Clovis Moura que também rende homenagem a sua cidade, João Ferry, com o seu livro A Chapada do Corisco, William Soares com seus versos líricos, sobre os meninos que empinam papagaios e os vapores que se evaporaram à beira do cais Paulo Machado com seu universo lírico da Piçarra e da praça Pedro Segundo, O G Rego de Carvalho, com seus romances que se passam em Oeiras, Teresina, Timon, H Dobal, com suas poesias ambientadas na paisagem telúrica de Campo Maior, Assis Brasil, com sua tetralogia, enfatizando o esplendor e a decadência da navegação no rio Parnaíba, Fontes Ibiapina, com seus romances marcadamente regionais, moldado em um linguagem caipira, Victor Gonçalves Neto, com seu conto O Fogo, um retrato vivo dos incêndios de Teresina, Pedro Celestino, com seu livro Sinais de Seca, não obstante, o titulo, a maioria dos seus contos são urbanos, e refletem muito bem o tempo em que ele viveu na capital do Piauí,. Magalhães da costa com seus Casos Contados Airton Sampaio, com sua temática marcadamente piauiense..Poderia citar outros. Mas o tempo é curto e páginas estão pautadas.

Para que um escritor seja considerado regional tem que contar a história de sua terra, tem que partir do particular para o universal. Quando falo do regional não estou falando do pitoresco do bizarro, estou falando da geografia e da história, do homem e de seu ambiente.

Com isto não quero dizer que a literatura tenha que está simplesmente agregada a aldeia do poeta. Mas que começa por aí, começa. Cristo começou contando parábolas sobre o seu povo, e foi além das fronteiras da Galiléia . Fernando Pessoa fala de muita coisa, do homem duplicado, do homem múltiplo, com seus heterônimos; também fala do mar, que de alguma forma era um dos universos do povo português.José Salgado dos Santos, preferiu ser Salgado Maranhão, o que não é a mesma coisa que o primeiro nome de batismo, é alguma coisa a mais. Não é Salgado Piauí. Um nome é uma bandeira. Acredito que é forçar um pouco registrar o poeta como escritor piauiense. O poeta nasceu em 1953, em Caxias. .Viveu sua adolescência na Piçarra. Foi para o Rio em 1973. Faz mais de trinta anos que se estabeleceu ali. .O Rio é uma cidade fascinante, e o deixou encantado, com certeza ele é mais conhecido lá do que no Piauí. Prefiro aceitá-lo como poeta carioca nascido no Maranhão, daqueles que saem da província e conquistam a metrópole; e, por isto mesmo, adquirem o respeito e a admiração dos amigos, inclusive o meu.
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E por falar no Salgado, Geraldo Borges comenta hoje o homem. Parece provocação. Minha é.

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