Paulo José Cunha
Há quem te veja nave de aço, avião
mas eu te vejo ave de pluma,
asas abertas sobre o chão.
Há quem te veja futurista e avançada
mas eu recolho em ti a paisagem rural
lá de onde eu vim:
fazenda iluminada.
E quem declara guerra a teu concreto armado
nunca sentiu a paz do teu concreto desarmado.
Há quem te veja exata, fria, diurna e burocrática
mas te conheço é gata noturna, quente, sensual - enigmática.
Há quem te gostaria só Plano Piloto, teu lado nobre,
mas eu também te encontro na periferia, teu lado pobre.
Há quem só te reconheça nos cartões postais
mas eu te vejo inteira, Planaltina,
cercada de Gamas, Guarás e Taguatingas.
Aos que só te querem grande - Patrimônio Mundial,
egoisticamente te declaro patrimônio meu, exclusivo:
Brasília minha
e, no meu bem-querer diminutivo, Brasilinha.
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Há quem te queira apenas Capital,
Cheia de prédios, moderna, vertical.
Mas te queremos também horizontal,
cidade calma, arejada, tradicional.
Há quem te queira só central,
nervosa, agitada - comercial.
Mas nós te amamos também periferia,
cidade alegre, de gente pobre, simples: natural.
Falar mal do teu calor é puro engano
(de quem não conhece o teu calor humano)
Os que só vêem em ti o moderno e o novo
não perceberam ainda que a cidade é o povo
e que és mais que cidade - és a síntese
de um Estado que olha pro futuro
sem jamais esquecer o seu passado.
Claro que te queremos grande, moderna, progressista,
mas te queremos sempre - eternamente - ingênua e pura,
amiga, sentimental, sempre menina,
ternura antiga, flor mimosa - Teresina.
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Paulo José Cunha, o piauinauta candango comparece com duas canções pros seus amores brasilis. A segunda usou como resposta ao desafio do Salgado Maranhão, já publicado aqui na edição anterior, e que Cinéas chamou Cantando Teresina.
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