domingo, 26 de junho de 2016

SEM REFORMA POLÍTICA NÃO ADIANTA JOGAR O JOGO


Desenho: Dino Alves

(Edmar Oliveira)

José Ribamar de Araújo Costa, conhecido pela alcunha de José Sarney, começou sua carreira política no ano do suicídio de Getúlio. Sem dinheiro e sem tradição familiar conseguiu apenas uma terceira suplência para deputado, mas no ano seguinte, aos 25 anos, assumiu uma cadeira de deputado. Daí em diante não parou mais, dez anos depois já era governador. Foi senador por dois Estados, Presidente da República e em atividade ainda hoje no Senado Federal, sendo o mais longevo político de nossa história republicana. Atuou sob quatro Constituições republicanas (1946, 1967, 1969 e a de 1988, que foi convocada por ele enquanto presidente).

Sarney possui a maior fortuna do Maranhão e uma das maiores do Brasil. Seu império consolidou-se durante a ditadura militar, onde conseguiu concessões públicas de inúmeras emissoras de rádios e televisões. Sua fortuna é composta de imóveis e empresas distribuídas com os três filhos, dois deles também políticos. Outra concessão pública utilizada foi uma extensa rede de postos de gasolina.

O exame da carreira pública de um de nossos políticos mais conhecidos, que teve como atividade profissional só a política, mesmo com os salários e benefícios exorbitantes que recebem nossos representantes, não justifica a fortuna amealhada, senão com, pelo menos, o tráfico de influência para ter concessões que são – por leis – impeditivas para políticos. Mas que, justiça seja feita, não foi uma “pequena ilegalidade” cometida apenas pelo José Sarney. Muitos políticos tiveram o mesmo pecado e a careira política de outro cacique – ACM da Bahia – também resultou numa poderosa rede de comunicações com empresas da mídia baiana em seu poder. Ou seja, nem se precisa dos desvios escandalosos do dinheiro público, revelado agora, para o enriquecimento dos políticos.

Entretanto o desejo pela política foi se constituindo, ao longo de nossa história, muito próximo ao desejo de enriquecimento pessoal. O tráfico de influência inerente aos cargos públicos foi transformado, pela pressa do desejo de consolidar um patrimônio pessoal, na sangria impiedosa e criminosa dos cofres públicos, independentemente de partidos, e também como uma moeda de permanecer no poder – substituindo os votos de representatividade (descobriu-se que se pode comprar o poder).

A forma normal de fazer política passou a ser essa. As empresas privadas, por sua vez, viram na corrupção de nossos políticos uma forma de lucratividade sem precedentes. E, inclusive, passaram a ser a fonte de financiamento das campanhas – também independentemente de partidos – que determina os votos que o político vai ter. A eleição é determinada – não pela vontade popular – mas pela manipulação da opinião pública pelo capital. E os políticos e as empresas enriquecem, enquanto os serviços essenciais (saúde, educação, segurança, proteção aos mais necessitados), para os quais foram edificados os Estados, minguam desesperadamente. Esse jogo aumenta exponencialmente a concentração da renda e o abandono dos necessitados.

Nós temos que saber atribuir a deficiência do transporte público ao financiamento das empresas de ônibus para manter políticos. O financiamento de campanha pelos planos de saúde resulta no sucateamento do SUS. A sustentações de políticos pelo agronegócio tem relação direta com o extermínio dos povos indígenas. A exploração da fé por verdadeiros impérios religiosos é responsável pela bancada fundamentalista que tenta levar nossos costumes à idade das trevas. O dinheiro que o sistema financeiro investe nas campanhas resulta na impossibilidade de pagarmos a dívida pública. E assim por diante, o jogo é jogado, independentemente de partidos.

É claro que tem os partidos menos ruins e os muitos ruins. Mas aí estamos a escolher a qualidade do inferno em que vamos viver. Para a democracia voltar um pouco a ser reconhecida como tal é necessária uma reforma política, que foi sempre postergada pelo governo menos ruim. E isso colocou o mais ruim no seu lugar. Sem reforma política não adianta jogar o jogo.   

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