Desenho: Dino Alves |
(Edmar Oliveira)
José Ribamar de Araújo Costa, conhecido pela alcunha de José
Sarney, começou sua carreira política no ano do suicídio de Getúlio. Sem
dinheiro e sem tradição familiar conseguiu apenas uma terceira suplência para
deputado, mas no ano seguinte, aos 25 anos, assumiu uma cadeira de deputado.
Daí em diante não parou mais, dez anos depois já era governador. Foi senador
por dois Estados, Presidente da República e em atividade ainda hoje no Senado
Federal, sendo o mais longevo político de nossa história republicana. Atuou sob
quatro Constituições republicanas (1946, 1967, 1969 e a de 1988, que foi
convocada por ele enquanto presidente).
Sarney possui a maior fortuna do Maranhão e uma das maiores
do Brasil. Seu império consolidou-se durante a ditadura militar, onde conseguiu
concessões públicas de inúmeras emissoras de rádios e televisões. Sua fortuna é
composta de imóveis e empresas distribuídas com os três filhos, dois deles
também políticos. Outra concessão pública utilizada foi uma extensa rede de
postos de gasolina.
O exame da carreira pública de um de nossos políticos mais
conhecidos, que teve como atividade profissional só a política, mesmo com os
salários e benefícios exorbitantes que recebem nossos representantes, não
justifica a fortuna amealhada, senão com, pelo menos, o tráfico de influência
para ter concessões que são – por leis – impeditivas para políticos. Mas que,
justiça seja feita, não foi uma “pequena ilegalidade” cometida apenas pelo José
Sarney. Muitos políticos tiveram o mesmo pecado e a careira política de outro
cacique – ACM da Bahia – também resultou numa poderosa rede de comunicações com
empresas da mídia baiana em seu poder. Ou seja, nem se precisa dos desvios
escandalosos do dinheiro público, revelado agora, para o enriquecimento dos
políticos.
Entretanto o desejo pela política foi se constituindo, ao
longo de nossa história, muito próximo ao desejo de enriquecimento pessoal. O
tráfico de influência inerente aos cargos públicos foi transformado, pela
pressa do desejo de consolidar um patrimônio pessoal, na sangria impiedosa e
criminosa dos cofres públicos, independentemente de partidos, e também como uma
moeda de permanecer no poder – substituindo os votos de representatividade
(descobriu-se que se pode comprar o poder).
A forma normal de fazer política passou a ser essa. As
empresas privadas, por sua vez, viram na corrupção de nossos políticos uma
forma de lucratividade sem precedentes. E, inclusive, passaram a ser a fonte de
financiamento das campanhas – também independentemente de partidos – que
determina os votos que o político vai ter. A eleição é determinada – não pela
vontade popular – mas pela manipulação da opinião pública pelo capital. E os
políticos e as empresas enriquecem, enquanto os serviços essenciais (saúde,
educação, segurança, proteção aos mais necessitados), para os quais foram
edificados os Estados, minguam desesperadamente. Esse jogo aumenta
exponencialmente a concentração da renda e o abandono dos necessitados.
Nós temos que saber atribuir a deficiência do transporte
público ao financiamento das empresas de ônibus para manter políticos. O
financiamento de campanha pelos planos de saúde resulta no sucateamento do SUS.
A sustentações de políticos pelo agronegócio tem relação direta com o
extermínio dos povos indígenas. A exploração da fé por verdadeiros impérios
religiosos é responsável pela bancada fundamentalista que tenta levar nossos
costumes à idade das trevas. O dinheiro que o sistema financeiro investe nas
campanhas resulta na impossibilidade de pagarmos a dívida pública. E assim por
diante, o jogo é jogado, independentemente de partidos.
É claro que tem os partidos menos ruins e os muitos ruins.
Mas aí estamos a escolher a qualidade do inferno em que vamos viver. Para a
democracia voltar um pouco a ser reconhecida como tal é necessária uma reforma
política, que foi sempre postergada pelo governo menos ruim. E isso colocou o
mais ruim no seu lugar. Sem reforma política não adianta jogar o jogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário