(Geraldo Borges)
Minha vontade era aprender a falar
em publico. Comecei o meu aprendizado muito cedo, nas festas de aniversario.
Era péssimo. Depois coloquei pedras na boa a maneira de Demostenes, um aprendiz
de orador, que se saiu bem. Comigo não deu certo. Ele era gago.
Folheei os alfarrábios de Rui Barbosa. Li Orações aos Moços.
Fiquei sabendo que ele era o Águia de Haia. Voava alto demais. Sabia falar do
alto da sua sinagoga. Caso discurso
valesse voto, com certeza, teria ganhado na sua eleição para presidente da república.
Nada aprendi com Rui: a não ser a máxima de que um dia o cidadão brasileiro
iria sentir vergonha de ser honesto.
Dei-me ao trabalho de ler os clássicos antigos, coisa que hoje
raramente se faz, e reli Catão que durante as Guerras Púnicas dizia: “ Delenda
est Cartago” no fim de todos os seus discursos. E também li Marcos Túlio
Cícero, dando ênfase a sua celebre frase: “Ate quando, Catilina, abusarás de
nossa paciência?”
Ouvi os discursos de Fidel Castro, um exagero de retórica. O
barbudo falava demais, por todos os poros, principalmente pela barba e pela
fumaça do charuto.
Já os discursos de Jânio Quadros tinham apena bigode. Gaiola
com ratos presos. Muitos gestos histriônicos.
Che Guevara, esse eu não me lembro de seus discursos,
recordo-me apenas do som dos disparos de seu fuzil, e dos seus ruídos
asmáticos.
Também ouvi Dom Avelar
eloquente e cardinalício do alto da marquise do cine Rex, falando para o seu
rebanho de piauiense. O discurso religioso tem outro tom. As pessoas o escutam,
principalmente, quando o pastor tem carisma.
Cada vez o meu aprendizado ficava
mais difícil. Chegava a ouvir ate mesmo os discursos do Carlos Said o que não
era verdadeiramente um discurso, mas um desabafo esportivo, que de certo modo
enfraqueceu suas cordas vocais, que eram de aço.
Abeberei-me no estudo de
Shakespeare. Principalmente no discurso de Marco Antônio nos funerais de Cesar.
“O mal que os homens fazem sobrevive-lhes, mas, o bem que o praticam, é sepultado
com os seus próprios ossos, que assim seja com Cesar”. O discurso da Marcos Antônio
era uma armadilha.
Estava desistindo de ser um orador;
comecei a desvalorizar o discurso; esta peça retórica pela qual os políticos
enganam os ingênuos eleitores.
Nessa busca de aprender a falar em publico um dia presenciei
o discurso de um camelô, no seu ponto comercial, na praça do Mercado Velho. Ele
chegou, abriu a sua mala tirou uma cobra e mais outros instrumentos de trabalho.
O povo começou a se aproximar, em circulo. A platéia estava formada. Ele abriu
o verbo. E começou a vender o seu peixe para o nosso povo tão mal informado.
Para tal camelô chegar a deputado bastava um partido e um bom patrocinador. Se
ele tem estudo, isto é o de menos. Sabe discursar. E pronto.
Desisto de aprender a discursar. Mas tenho certeza, a essa
altura, se subisse ao palco, representando um parlamentar, conseguiria me sair
bem, no seu papel, até mesmo porque ninguém se dignifica a prestar atenção no
que eles estão falando. Por isso mesmo reafirmo a minha desilusão com o
discurso. Prefiro mergulhar no silencio da meditação e da reflexão, e evitar o
máximo possível o alarido das rãs coaxando. Principalmente agora que fiquei
sabendo que o discurso é uma coisa abominável, pela crônica de Paulo Mendes
Campos. ”Discurso em geral, mas, notadamente, os empolados e compridos.”
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