Edmar Oliveira
Teresina fez 160 anos no dia 16 passado. É uma cidade muito
nova e já acumula os defeitos de outras que passaram muito mais tempo para
abandonar o centro histórico e, algumas, já estão recuperando o passado
a duras penas e com arrependimento. Teresina, como uma mulher vaidosa, parece querer ser ainda mais jovem do que aparenta. Uma cidade nova se ergue e destrói coisas belas do passado, parodiando o poeta.
Quando vou até lá me hospedo pelo centro da cidade, que
sempre foi o meu referencial por habita-la. Vinha sentindo um esvaziamento da
cidade com o consequente investimento em uma nova e moderna metrópole depois do
rio Poti. Fizeram até uma ponte, aliás, linda, para que esquecêssemos a outra,
também bonita, mas abandonada.
Pois bem, desta última vez a cidade que eu vivi não existia
mais. É como se fosse uma cidade fantasma. Impressiona quantas casas foram
derrubadas para hospedagem de carros. Estacionamentos gigantescos ocupam o lugar
de casarões que só existem agora na minha memória. As praças, outrora oásis de
lagos e fontes com jardins e árvores que amenizavam o calor, têm hoje a
aparência de logradouros mortos e esquecidos. Encontrei, de viva alma, um grupo
de meninos inquietos que tenta ressuscitar o cinema da Praça Pedro II. Os
cinemas de rua, e eram três resistentes na minha infância, também atravessaram
o Poti e foram para dentro dos shoppings centers, apetrechos que não combinam
com a cidade que eu conheci.
O Mercado Velho vem caindo, anos após anos, num desinteresse
das novas gerações, que ficam iguais as que aparecem nas tvs, esquecidas dos
sabores, frutos e cheiros da terra.
Uma cidade não pode esquecer o lugar onde nasceu, sob pena
de perder a sua identidade. A Praça Marechal Deodoro, com o marco fundador do
Conselheiro Saraiva, tem o mercado, a Igreja do Amparo e os prédios públicos
onde a cidade se estabeleceu na beira do cais do Parnaíba.
Não estou querendo que a outra cidade não exista. Ela é
necessária e condizente com o progresso e crescimento vertiginoso de Teresina.
Mas o seu centro histórico está merecendo um melhor cuidado. A bela cidade que
se anuncia depois da ponde estaiada não pode esquecer o seu passado. O coração
de uma cidade é sua igreja fundadora e seu mercado. Outras cidades se
arrependeram desse esquecimento e muita delas está refazendo esse erro. Porque
não aprender e já agora começar a recuperação dos marcos históricos?
________________________________________No desenho, o MercadoVelho está a esquerda e a Igreja do Amparo, ainda sem as torres, à direita. Na foto antiga a velha praça Pedro II (o coreto, o moderno Cine Rex, e a esquina de influência árabe) que já não existe.
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