domingo, 2 de setembro de 2012

Teresina Velha



Edmar Oliveira

Teresina fez 160 anos no dia 16 passado. É uma cidade muito nova e já acumula os defeitos de outras que passaram muito mais tempo para abandonar o centro histórico e, algumas, já estão recuperando o passado a duras penas e com arrependimento. Teresina, como uma mulher vaidosa, parece querer ser ainda mais jovem do que aparenta. Uma cidade nova se ergue e destrói coisas belas do passado, parodiando o poeta.

Quando vou até lá me hospedo pelo centro da cidade, que sempre foi o meu referencial por habita-la. Vinha sentindo um esvaziamento da cidade com o consequente investimento em uma nova e moderna metrópole depois do rio Poti. Fizeram até uma ponte, aliás, linda, para que esquecêssemos a outra, também bonita, mas abandonada.

Pois bem, desta última vez a cidade que eu vivi não existia mais. É como se fosse uma cidade fantasma. Impressiona quantas casas foram derrubadas para hospedagem de carros. Estacionamentos gigantescos ocupam o lugar de casarões que só existem agora na minha memória. As praças, outrora oásis de lagos e fontes com jardins e árvores que amenizavam o calor, têm hoje a aparência de logradouros mortos e esquecidos. Encontrei, de viva alma, um grupo de meninos inquietos que tenta ressuscitar o cinema da Praça Pedro II. Os cinemas de rua, e eram três resistentes na minha infância, também atravessaram o Poti e foram para dentro dos shoppings centers, apetrechos que não combinam com a cidade que eu conheci.
O Mercado Velho vem caindo, anos após anos, num desinteresse das novas gerações, que ficam iguais as que aparecem nas tvs, esquecidas dos sabores, frutos e cheiros da terra.
Uma cidade não pode esquecer o lugar onde nasceu, sob pena de perder a sua identidade. A Praça Marechal Deodoro, com o marco fundador do Conselheiro Saraiva, tem o mercado, a Igreja do Amparo e os prédios públicos onde a cidade se estabeleceu na beira do cais do Parnaíba.

Não estou querendo que a outra cidade não exista. Ela é necessária e condizente com o progresso e crescimento vertiginoso de Teresina. Mas o seu centro histórico está merecendo um melhor cuidado. A bela cidade que se anuncia depois da ponde estaiada não pode esquecer o seu passado. O coração de uma cidade é sua igreja fundadora e seu mercado. Outras cidades se arrependeram desse esquecimento e muita delas está refazendo esse erro. Porque não aprender e já agora começar a recuperação dos marcos históricos?       
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No desenho, o MercadoVelho está a esquerda e a Igreja do Amparo, ainda sem as torres, à direita. Na foto antiga a velha praça Pedro II (o coreto, o moderno Cine Rex, e a esquina de influência árabe) que já não existe.

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