Escreva alguma coisa, se expresse, Diga o que sente ao
vazio do papel. Aos pouco, uma palavra aqui, outra ali e você vai se soltando.
Escrever é como
se coçar, uma expressão corporal, é só começar e gostar. Você começa usando letras,
sílabas, palavras, orações, períodos, parágrafos, e vai adiante.
Não deixe a censura interna tomar conta de você.
Escreva ao seu bem querer, escreva o que bem quiser, no ritmo de sua
inspiração, de sua respiração. Depois se quiser limpar o texto vá mais devagar.
Mas cuidado na hora que estiver sacudindo a bateia.Não exagere as escolhas.
Tome suas palavras como um delírio do qual você
precisa se livrar Faça de conta que você está na frente de um psicanalista num
divã, tentado desabafar, ou que está escrevendo para um velho amigo, recordando as brincadeiras de
menino.
Lembre-se de
que quando era criança gostava de ouvir histórias encantadas, invente ou reinvente agora história recontadas.
Escreva alguma coisa, qualquer bobagem, como criança que desenha garatujas. Uma
casinha com uma árvore e o sol parecendo o rosto de um menino risonho.
Você gosta de
conversar, por que não escreve?A fronteira entre as duas atividades têm uma dimensão muito sutil, se você
descobrir vai encontrar o maior achado, o seu talismã para abrir a porta da
literatura.
Primeiro você
tem de ver que tudo é narrativa, que você virou personagem desde o momento que
berrou na hora de nascer, foi batizado e ganhou um nome para começar a sua
história. Aliás, você virou personagem
desde a hora de sua concepção.
Daí para frente vão começar os desafios e as
peripécias. E mesmo que você não tenha talento para a invenção, é só observar,
seu ambiente, sua família e os outros para
criar os círculos de seu inferno, e encontrar o seu demônio; de posse de
seu demônio, de seu duplo, se você tiver
faculdade para escutá-lo, considere-se
pronto para escrever. Escreva alguma coisa, se expresse.
Toda palavra
tem ritmo e força e pode estar conectada com as profundezas mais submarinas do
inconsciente, se você conseguir pescá-la pode estar certo que será um escritor.
Um escritor é um caçador de palavras, com ela
tece sua rede para pescar no labirinto do imponderável, rede esta que começa a
ser tecida com os brinquedos da infância.Pois é pelos caminhos da infância que
se inicia a vida de um escritor. Se ele não gostar da criança que sobrou em sua
biografia, de nada vai adiantar; pois perdeu o fio da meada.
Interrogaram, um dia, Gladstone, sobre quantos
discursos um homem podia fazer em uma semana. O grande parlamentar britânico
respondeu. “ Se é um homem de alta capacidade, um só. Se é um medíocre, dois ou
três. Se é um imbecil, uma dúzia.” Paul Veléry
fazia bastante conferencias. Um dia lhe perguntaram a receita para tantos trabalhos sucessivos , respondeu
malicioso: “Nada mais fácil do que preparar uma conferencia. Basta definir as
palavras que compõem o titulo dado.
Pedem –nos para falar sobre o
“Sentimento do infinito em Pascal?” Muito bem. Primeira parte: o que é o
sentimento? Segunda parte: que é o infinito? Terceira parte: quem é Pascal? Dez
linhas de conclusão, brilhante se possível. E a conferencia está feita.
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