domingo, 22 de julho de 2012

Escreva alguma coisa



Geraldo Borges

Escreva alguma coisa, se expresse, Diga o que sente ao vazio do papel. Aos pouco, uma palavra aqui, outra ali e você vai se soltando.

 Escrever é como se coçar, uma expressão corporal, é só começar e gostar. Você começa usando letras, sílabas, palavras, orações, períodos, parágrafos, e vai adiante.

Não deixe a censura interna tomar conta de você. Escreva ao seu bem querer, escreva o que bem quiser, no ritmo de sua inspiração, de sua respiração. Depois se quiser limpar o texto vá mais devagar. Mas cuidado na hora que estiver sacudindo a  bateia.Não exagere as escolhas.

Tome suas palavras como um delírio do qual você precisa se livrar Faça de conta que você está na frente de um psicanalista num divã, tentado desabafar, ou que está escrevendo para um  velho amigo, recordando as brincadeiras de menino.

 Lembre-se de que quando era criança gostava de ouvir histórias encantadas, invente  ou reinvente agora história recontadas. Escreva alguma coisa, qualquer bobagem, como criança que desenha garatujas. Uma casinha com uma árvore e o sol parecendo  o rosto de um menino risonho.

 Você gosta de conversar, por que não escreve?A fronteira entre as duas atividades  têm uma dimensão muito sutil, se você descobrir vai encontrar o maior achado, o seu talismã para abrir a porta da literatura.

 Primeiro você tem de ver que tudo é narrativa, que você virou personagem desde o momento que berrou na hora de nascer, foi batizado e ganhou um nome para começar a sua história. Aliás,  você virou personagem desde a hora de sua concepção.

 Daí para  frente vão começar os desafios e as peripécias. E mesmo que você não tenha talento para a invenção, é só observar, seu ambiente, sua família e os outros para  criar os círculos de seu inferno, e encontrar o seu demônio; de posse de seu demônio, de seu duplo, se você  tiver faculdade para escutá-lo,  considere-se pronto para escrever. Escreva alguma coisa, se expresse.

 Toda palavra tem ritmo e força e pode estar conectada com as profundezas mais submarinas do inconsciente, se você conseguir pescá-la pode estar certo que será um  escritor.

 Um  escritor é um caçador de palavras, com ela tece sua rede para pescar no labirinto do imponderável, rede esta que começa a ser tecida com os brinquedos da infância.Pois é pelos caminhos da infância que se inicia a vida de um escritor. Se ele não gostar da criança que sobrou em sua biografia, de nada vai adiantar; pois perdeu o fio da meada.

Interrogaram, um dia, Gladstone, sobre quantos discursos um homem podia fazer em uma semana. O grande parlamentar britânico respondeu. “ Se é um homem de alta capacidade, um só. Se é um medíocre, dois ou três. Se é um imbecil, uma dúzia.” Paul Veléry  fazia bastante conferencias. Um dia lhe perguntaram a receita  para tantos trabalhos sucessivos , respondeu malicioso: “Nada mais fácil do que preparar uma conferencia. Basta definir as palavras que  compõem o titulo dado. Pedem –nos para falar sobre o  “Sentimento do infinito em Pascal?” Muito bem. Primeira parte: o que é o sentimento? Segunda parte: que é o infinito? Terceira parte: quem é Pascal? Dez linhas de conclusão, brilhante se possível. E a conferencia está feita.

Nenhum comentário: