domingo, 9 de outubro de 2011

Benoni Alencar, personagem da Provincia Submersa

Geraldo Borges

Benoni Alencar está morto. Soube da má noticia por meio de uma mensagem do Edmar. Mais um companheiro das páginas da Província Submersa que foi para o mundo do além. Para um mundo em que ele não acreditava. Sempre lutou para que este ficasse o melhor possível, mais humano, solidário, sem o idealismo religioso de uma esperança além túmulo. A sua luta sempre contínua parece que resultou em sua morte.

 Benoni fazia parte da velha Teresina, do bairro Vermelha. Menino brincava no pátio da Igreja do padre Carvalho e já fazia política estudantil. Foi presidente de diretório do seu colégio. Com a sua simpatia e sua facilidade na fala sabia agregar pessoas em sua volta. Eu o conheci quase menino, aliás, conheci toda a sua família, gente boa e hospitaleira: dona Hilda, sua mãe, a Zilda, a Salvani, a Yolanda, e o Odilon, seu irmão que, também já morreu. Lembro-me perfeitamente de sua casa, onde havia uma latada de palha no fundo, tipo rural. Ali o seu tio Odilon matava de madrugada, quase todo dia, um bode. Benoni Alencar, prestativo, acordava de manhã cedo para ajudá-lo.

Benoni começou a ter responsabilidade muito cedo, era arrimo de família Estudava de noite e trabalhava de dia e mesmo assim passava com boas notas. Trabalhou na Caixa de onde foi demitido por motivos políticos  Nós dois nos dávamos muito bem. Além da política interagíamos através da literatura. Fomos membros do Clip, clube literário piauiense. E fizemos uma representação poética sobre a direção de Ary Sherllok  no Teatro de Arena.

 Estou falando do Benoni Alencar vivo. Mas agora ele esta morto, fisicamente desapareceu. É recordação. A sua morte me fez chorar com o corpo todo, não apenas com os olhos e a garganta. Vai longe à última vez que o vi, foi no século passado quando veio a Teresina, e hospedou-se em minha casa. Estava tentando viabilizar um projeto sobre a cultura piauiense no Rio de Janeiro.

Benoni Alencar deixou um livro inédito. LATITUDE PIAUI: (Peripécias  da resistência  à ditadura  militar, no Meio Norte do Brasil) onde fala de sua experiência revolucionária, revelando muita coisa desconhecida aos nossos historiadores.

Sua morte está envolta em mistério. Pode ter sido por “razões” políticas. Ele nunca abandonou a militância. Estava no PSOL, uma dissidência radical do PT. E, na verdade, se expunha. Ser radical em uma cidade pequena (morava no Rio das Ostras) é temerário. Dizem também que foi latrocínio. Roubo acompanhado de assassinato. Resta investigar. As pistas, embora subjetivas, apontam para um crime político. Mãos assassinas estrangularam Benoni  Alencar. Sufocaram sua garganta, o seu logos, a sua expressividade. A maneira de como praticaram o crime não seria uma linguagem a ser decodificada?

Bernoni Alencar logo que saiu da prisão em 1970 trabalhou no Jornal O Estado de Helder Feitosa, na biblioteca do professor Camilo Filho, depois foi para o Rio de Janeiro estudar jornalismo. Casou. Teve filhos, Trabalhou na Imprensa. Devia ter tido amigos e inimigos. Perdeu a mulher que por ironia do destino também foi assassinada. Saiu do Rio de Janeiro em busca de uma cidade pequena. Refugiou-se em Rio das Ostras, fez concurso para a prefeitura. Passou. Na repartição as pessoas pareciam não gostar dele. Lembro-me que fui visitá-lo nessa cidade, juntamente com o Edmar Oliveira. Perguntei onde ele morava. Pois tinha mudado de residência. Um funcionário consultou um caderno e perguntou a seu colega de lado: Onde está morando o Benoni Alencar? O outro respondeu, com humor negro: Está morando no cemitério. Era uma mulher. Mas com certeza este crime não foi passional. O trágico é que perdemos Benoni Alencar. Mas um óbito para uma personagem da Província Submersa.

Benoni Alencar deixou um legado importante para a sociedade brasileira, notadamente piauiense, em termos de exemplo político, nunca abdicou de suas posições. Merece uma biografia, ou, ao menos que o seu livro seja publicado. É uma justa homenagem a esse piauiense ilustre que teve de sair de sua cidade  fugindo da ditadura, como muitos nordestinos aguerridos, e refez sua vida de uma maneira  altiva e respeitável.

A morte espanta, faz chorar, une os familiares, é motivo de orações, reflexões. O que Benoni Alencar fez marcou sua vida. Viva Benoni Alencar. E o resto não pode ser silêncio.

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