(Léo Almeida)
Qual o signo dele? A pergunta me pegou de surpresa. O
inusitado na tardezinha urbana de Copacabana. Ele se referia ao
cachorro. Eu não conseguia acreditar que a pergunta era endereçada ao
Chiquinho. Disse-lhe, contendo o sorriso, que o meu cachorro tinha
nascido em janeiro, dia dois. Ele emendou: os capricornianos são muito
amistosos e continuou brincando com o meu yorkshire, que não tem noção
de sua pequenez. A doçura, o encanto, a atração sincera que ele
demonstrou com o cãozinho arisco, que eu trazia na guia curta, só
reforçou a imagem que tenho captado nas ruas deste bairro: além dos
turistas e dos velhos, os cachorros são as figuras constantes destas
ruas. O morador de Copacabana é um apaixonado por cães. De todas as
raças, tamanhos, cores. Uns silenciosos, outros escandalosos. Uns
agressivos, outros dóceis e medrosos. Andar pelas ruas de Copacabana é
esbarrar com esses animais. É difícil distinguir quem guia quem, pois
eles parecem levar seus donos para passear e manter contato com o mundo.
Sim, são os cães que retiram seus donos de suas solidões e
recolhimentos, dos apartamentos pequenos e os levam para ver outros
donos e seus cães pelas ruas. Circulando pelo quarteirão ou caminhando
na praça do Bairro Peixoto, os cães se atraem, se cheiram e, nesse
contato, obrigam seus donos, que nunca se viram antes, a se aproximarem e
conversarem. Do cumprimento de bom dia ou tarde, passa-se às perguntas
sobre os animais, idade, sexo, nome e acaba-se ingressando em assuntos
menos caninos e mais humanos, trivialidades, política, futebol, mulher,
carestia, arrastão, medo, festa... os habitantes dos conjugados e kits
mantêm contato com os moradores dos grandes apartamentos e casas de
vilas. Tudo se dá por causa desses bichos que nos obrigam a dar voltas
para que façam suas necessidades. É curioso notar que acabamos por
saciar as nossas necessidades de contato humano, de ouvir o outro, de
ver e sentir o estranho tão familiar, que partilha a vidazinha de
Copacabana ao seu lado e que, de outra forma, passaria incólume ao seu
afeto. Será que os cães planejaram essa estratégia para nos manter
vivos, menos solitários e mais esperançosos com as coisas da vida? Tenho
um amigo que confidenciou-me outro dia a sua teoria cruel. Segundo ele,
quando o sujeito se dedica a passear com seu cão é por que desistiu da
humanidade. A prática desse passeio com o Chiquinho tem me demonstrado
justamente o contrário. É com meu amigo de quatro patas que tenho
conhecido a vida cotidiana deste bairro. A história da vida privada em
Copacabana não será completa se não houver um olhar atento à função
social dos cães. A conversa que começou pelo signo de Capricórnio do meu
yorkshire descambou para um contato amistoso, que rendeu-me a
descoberta de um indivíduo inteligente e atento às coisas do mundo.
Psicólogo, astrólogo, amante dos cães. De que outra maneira eu poderia
conhecer alguém assim? Depois que nos despedimos e trocamos endereços de
redes sociais para continuarmos nossa conversa, olhei para o Chiquinho e
tenho certeza de que, em seu olhar de profunda negritude, brilhava uma
luzinha de ardente felicidade e dever cumprido. Continuamos nosso
passeio, ele de rabo abanando e eu assobiando uma velha canção dos
Beatles.
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