domingo, 3 de maio de 2015

NÁUFRAGOS

(Edmar Oliveira)


Outro dia tive conhecimento de uma apresentação Power Point em português de Portugal que comparava invasão de fronteiras em diferentes países. A moral da história é que a invasão de fronteira em vários países periféricos e/ou em conflito geravam punições severas, enquanto a “invasão” das fronteiras da Europa era premiada com abrigo, assistência, ajuda financeira. Algo como o nosso “casa, comida e roupa lavada”. A apresentação que circula no território livre da internet é um “protesto” europeu ante a facilidade de migração para o mundo civilizado. Engraçado que reivindicavam um comportamento de países “não civilizados” para lidar com a migração.

Uma atitude fascista como é comum no comportamento europeu de classe média. A xenofobia odeia os migrantes africanos a os culpa pelas dificuldades econômicas que o mundo atravessa. Não se quer perceber que a prosperidade europeia foi fruto dos saques coloniais de cruel dominação aos povos africanos. E que os africanos espoliados buscam na civilização as migalhas das riquezas que lhe foram roubadas.

E o mundo assiste insensível à travessia da morte que vitima africanos no Mediterrâneo. Uma cena cruel: náufragos agarrados em cadáveres que boiavam chegam à costa europeia após desastre ao mar. Os traficantes de escravos modernos recebem o pagamento antes da travessia, de modo que não se importam com o resultado da mesma. A sobrevivência de embarcações superlotadas é puro sorteio dos deuses.

O mundo civilizado exigiu um acolhimento melhor a estes náufragos. Reuniões foram feitas pelos políticos para o “abrigamento” mais civilizado das vítimas. Patrulhar o mar para recolher os condenados antes do naufrágio. Mas, ao mesmo tempo, ter como missão recolher os barcos e os inutilizar para evitar sua reutilização. Assim evitam-se novos náufragos, mas dificulta-se a migração, atendendo – de certo modo – os autores do protesto iniciais. Como dizer que o mundo civilizado mantém-se com uma dose de xenofobia. 


Penso que os náufragos da insensibilidade se afogam em comportamentos fascistas e estes, sim, são os náufragos que ameaçam afogar a própria civilização. 


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