(Geraldo Borges)
No tempo em que estudei o curso primário, no grupo escolar Teodoro Pacheco, que ficava na
esquina da Praça João Luis Ferreira a nossa professora costumava ministrar ditado durante a aula de português. Era um exercício interessante. Avaliava o
grau de entendimento que os alunos tinham da língua portuguesa. E ao mesmo
tempo exercitava a leitura. Nem todos se
saiam bem, a ponto de escrever todas as palavras do texto corretamente. Alguns
trocavam o j pelo g. Os acentos atrapalhavam muito. Mas, no final das contas o
ditado era um instrumento didático
bastante eficiente. Havia também exercícios de cópias.
Eu fiava admirado como é que a minha professora, depois que
acabava o ditado conseguia corrigir
aquele monte de trabalho, com letras de todo jeito e qualidade. Era
dose. As pessoas que tinham letras boas facilitavam. Eu, pelo contrário, tinha
uma péssima letra. Às vezes nem eu mesmo
a entendia.E eu acho que a caligrafia ajudava na nota. Nesse tempo não havia
caneta big. Usávamos caneta de pena com tinteiro e mata borrão, e lápis com
borracha. Havia muito borrões em nossos cadernos. Desenhos surrealistas E
geralmente desenvolvíamos a nossa escrita com muito menos rapidez do que hoje
em dia.
No grupo escolar também estudássemos caligrafia. Cada aluno
tinha um caderno para essa tarefa. Os
exercícios de caligrafia consistiam em copiar um provérbio edificante desse que
padronizam a vida; que confundem a realidade do mundo com a sua mera descrição;
era como se através da caligrafia pudéssemos nos tornar um bom cidadão.
Difícil desconfiar de um sujeito que
tenha uma boa caligrafia. Na China e no Japão a caligrafia faz parte de sua
cultura milenar. E uma maneira estética de se expressar. No Brasil, com
certeza, deve existir por aí alguns bons calígrafos.
Por mais que eu me esforçasse para desenhar uma letra
bonita, não conseguia. Eu não conseguia encaixar as letras nas linhas
paralelas, nas linhas retas. Elas me davam uma sensação de limite. Parece que a
minha mão era mais veloz que a minha vontade e me conduzia através de seus
garranchos. Não quer dizer, com isso, que eu detestasse a minha letra; ela deve
ter melhorado com o tempo, era muito vertical. Hoje é mais horizontal.
Havia alunos que
mordiam a língua para poder arredondar as letras; isso me fazia lembrar de
pessoas adultas, camponeses acostumados ao cabo da enxada, querendo apreender a
ler e escrever, pelo menos o seu nome.
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P/S: Na semana passada, conversando, casualmente, com uma
professora num ponto de ônibus. Conversa vai conversa vem, antes de seu ônibus
chegar ela me disse que ainda utilizava o ditado com os seus alunos, e também exercício de caligrafia, e
cópia.
De repente voltei a infância e revi na professorinha a minha antiga professora
do primário.
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