domingo, 13 de abril de 2014

delivery é o cacete!

Paulo José Cunha comenta uma manchete da FOLHA DE SÃO PAULO: "Com estilo vintage, padeiros aceitam encomendas e entregam em casa".
Veja no site: http://www1.folha.uol.com.br/comida/2014/04/1434194-com-estilo-vintage-padeiros-aceitam-encomendas-e-entregam-em-casa.shtml


Povo bobo. 
Lá em Teresina, quando eu era menino, todo dia o padeiro ia deixar o pão da gente, quentinho, coberto por um pano de prato impecavelmente branco, na porta de casa. Vinha numa bicicleta, com aquela cestona na garupa. Tocava uma buzina que nem a do Chacrinha. Depois chegava o leiteiro. A mesma coisa. E nada mais ecológico: não trazia o leite empacotado nem engarrafado: em cada casa, quem ia receber na porta  levava a própria garrafa bem lavadinha e ali, na hora, ele enchia com o leite que saía borbulhando de uma torneira presa a um latão. Tudo de bicicleta. Bem ecológico e moderno, né não? Bem verdade, diziam, que metade do leite era água... Mas, que diabo: não existe nada mais antigo do que a fraude. E até nisso somos pioneiros. E tinha também o carvoeiro, o homem das vassouras, outro dos espanadores e uma velha que vendia vasculhadores, aquelas vassouras altonas pra varrer o teto das casas por dentro, no tempo em que não havia forro pra esquentar os ambientes. Tudo ali, na porta de casa. 
Pagamento? Era por mês. Tudo anotadinho numa caderneta. Muito mais econômico e racional do que esse tal de cartão de crédito. No dinheiro. E a gente ainda podia pechinchar, momento ótimo pra falar mal do custo de vida e desse governo e desses políticos safados que não fazem nada pra melhorar essa situação.  
É isso: queiram ou não o Piauí já está na vanguarda há séculos! Depois é que vieram os retrógrados que inventaram os supermercados, esses templos do consumo sem alma nem personalidade e nos puxaram pra trás. Mas já fomos bem mais modernos. 
Ah. Naquele tempo o nome disso “ entrega de porta em porta” ou “a domicílio” (assim mesmo, errado - porque o certo é “em domicílio” - como errada e linda é a língua do povo, como dizia o Oswald). Agora é que inventaram esse tal de delivery, macaqueando os gringos. 
Sou mais é nóis! Esses paiulistas bem que podiam dar um pulinho por lá e conversar com os mais velhos. Iam aprender como é que se faz...

Um comentário:

João de Deus Netto disse...

Metade dos anos 60, meu pai madruga no "setor" (esquina) de leite do mercado velho de C. Maior e avisa para um amigo sobre um leiteiro ativo e solitário mais adiante: "Quer ver uma coisa?"... Ponta de pé, quase no cangote... "Nas misturas químicas, né?!"...Cabra deu um pulo segurando a bicicleta com o latão amarrado na garupa. Vasilhame com água espalhou na calçada... Dessas delícias que arrente ler até se impazinar.