Desenho: Amaral |
(Geraldo Borges)
Está no DNA a visceral inclinação para voltarmos para o campo. E claro que saímos do campo. E quem
vai volta. E a lei do retorno. No principio fomos todo camponeses. Depois, com
o desenvolvimento do comercio e o aparecimento das cidades, a corrida para as
metrópoles se acentuou. Na cidade você tinha uma sensação de maior liberdade.
Não via o patrão. Mesmo assim não esquecia o interior. A nossa literatura romântica
e moderna cheia de louvação a natureza. Descrição de lindos por do sol. Na poesia
nem se fala. Na verdade, o Brasil durante o período romântico era uma vasta
fazenda com seu engenhos e plantações de café.
A nossa literatura vai marcando no seu texto como uma espécie
de rodapé cronológico todos as etapas da evolução da nossa vida no
campo e a ponte para a cidade.
Vidas Secas, por exemplo, termina com a família de Fabiano
chegando a cidade, na esperança de ter uma vida melhor. Em Angustia, o
personagem principal, Luís da Silva, veio do campo. O romance quase todo gira
em torno da angustiante lembrança do seu tempo de menino na fazenda de seus
avos. O personagem tem uma experiência
da vida na cidade, vivendo com um salário miserável, cheio de dividas, e uma
vida sentimental destruída. Voltar ao campo não podia mais A cidade já tratara
de degenerá-lo a ponto de tornar-se um assassino. Matou um representante do
Poder.
Hoje não se distingue mais o campo da cidade. Tudo que está
no campo está na cidade. A tecnologia é onipresente. Quem tem um pedaço de
terra aqui no Nordeste, chama-o de sitio. Lugar na beira a estrada, ou dentro
do mato, onde você pode chegar por uma estrada vicinal. Geralmente o sitio tem
riacho ou poço, até mesmo piscina, televisão, geladeira, bar. E ali se
ritualiza os mesmos prazeres da cidade. Muito churrasco e cerveja, mulheres
bonitas, e o mesmo papo superficial de sempre. O sitio é para fim de semana. Nele
não existe nenhuma unidade de produção, a não ser fruta silvestres que muitas
vezes apodrecem ou são comidas por passarinhos. Para se manter um sítio tem que
se contratar um caseiro, Segurança. Mas o caseiro termina sendo experto. E o dono
do sitio sente-se lesado. No começo tudo é uma beleza. Convidam-se os amigos.
Bebe-se muita cachaça. Tudo isso passa rápido. E me faz recordar um amigo meu que
caiu nessa de comprar um sitio depois vendeu. Ele dizia.
Só tem dois dias felizes para o dono de um sitio: o dia que
comprou e o dia em que vendeu. Vendi o meu. E se um dia tiver de voltar para o
campo, voltarei para o campo santo ou para a cidade dos pés juntos, o que é
tudo a mesma coisa.
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