Fui ver Snowden. Oliver Stone transforma em suspense uma
história real. Por isso o filme prende e até assusta com uns sustos típicos de
Stone. Mas nos conta a história assustadora de como os EEUU montaram a rede de
espionagem mais inacreditável da face da terra usando hackers e outros gênios
da informática. Todos garotos que tiveram suas vidas presas no espaço
cibernético. Snowden é um gênio autodidata, nunca terminou o segundo grau, mas
o surpreendente talento na internet o fez chegar a cargos tops na inteligência
americana com menos de 29 anos, quando “desertou” para não ser morto ou isolado
em Guantánamo como espião traidor da pátria.
E o interessante é que ele não conta um só segredo
americano, nem trai a inteligência americana com segredos que poderiam ser
repassados ao inimigo. Ele apenas divulga, o que sempre foi negado pelo governo
americano, que todas as pessoas do globo terrestre são monitoradas pelo uso dos
seus celulares, redes sociais e computadores (até quando desligados, pasmem!).
Você carrega no bolso o seu controle. O celular – através do GPS – monitora os
nossos passos onde quer que estejamos. (Um parêntese, não era à toa que um
amigo nordestino, que se recusa a usar celular, chama o aparelho de chocalho. O
vaqueiro acha o boi pelo chocalho; nós, pelo celular somos achados). E – não é
o que acontece aqui, mas nos países em conflitos de interesse americano –
podemos ser mortos por controle remoto. Claro que pode haver erros e o morto
pode ser outro – e isso parece ser um dos efeitos colaterais que atormentaram
Snowden. Mas é assustador estarmos monitorados pelo grande irmão.
Todas os seus telefonemas, suas conversas nas redes sociais
são gravadas em nuvens infindáveis e um programa pode localizá-las e reproduzir
sem necessidade de autorização judicial. Aconteceu com Dilma e ela denunciou na
ONU. Aconteceu na Petrobrás para ajudar no golpe. Se o seu computador, mesmo
desligado é atualizado pela Microsoft, Snowden confessa que o Serviço Secreto
americano pode ativar a câmara do seu computador desligado e invadir a sua
casa, o seu escritório. Assustador?
Foi isso que esse menino revelou para o mundo e o filme usa
a linguagem da ficção para ser mais real. É nesse mundo que acreditamos. Oliver
Stone acertou em cheio.
E por que não tiveram maiores impactos essas revelações
assustadoras? Porque preferimos a segurança da nossa navegação do que a
liberdade de pudermos navegar sem bisbilhoteiros. Talvez porque não temos
nenhuns motivos para sermos vigiados. Pegaram um terrorista, mas eu não sou
terrorista; o meu vizinho é do MST, mas eu não sou do movimento; o meu colega
estava na passeata contra o golpe, mas eu não estava. Como no poema, um dia vão
te levar e você não vai poder pedir ajuda a ninguém.
E eu posso ser denunciado até por está escrevendo isso aqui.
(Edmar Oliveira)
Nenhum comentário:
Postar um comentário