Era um antigo professor do liceu piauiense. Não foi meu
professor. Mas me deu uma lição, que passo agora a relatar. Coisa que não mais
acontece nos tempos de hoje, tempo em que aluno não respeita professou e
vice-versa.
Foi aí pela década de
70.
Naquele tempo, acontecia muitas vezes, estudantes, da classe
média, metidos a revolucionários, sair do conforto da casa de seus pais e ir
morar no subúrbio de um bairro distante. Pois é. Sua filha Marcelina e o Edmar
fizeram isso. E me convidaram para morar com eles. Cada qual entrava com
contribuição necessária para a manutenção da casa.
Um dia o professor resolveu nos fazer uma visita. Lembro-me
bem. Era um dia de sábado. Um dia bonito pra chover, como sé se diz no Piaui.
Quando o professor
chegou, a nossa casa popular, no conjunto Parque Piauí, acompanhado de outra
pessoa, eu estava lendo dentro de meu pequeno quarto, que tinha uma rede, uma
pequena estante com livros, lápis e cadernos, e uma mesa com uma cadeira.
Eu acho que eu lia um romance. Pois sempre fui devotado ao
romance. O moço que vinha com o professor falou alto, fazendo talvez alguma
observação sobre a casa. Nisso o professor me viu debruçado sobre as páginas de
meu romance e disse, em tom abrandado para o seu acompanhante.
Fala baixo o rapaz
está estudando.
Não acostumado com a
deferência das pessoas mais velhas me toquei com o seu gesto. Ele não era m
professor comum. Em qualquer lugar que estivesse deixava a marca de sua
didática e pedagogia. Com ele, aprendi, naquele momento, mais relações humanas
do que em todo o meu tempo de ginásio e colegial. Esse encontro casual sempre
perpassa a minha lembrança, como um exemplo que dificilmente se repetirá no
mundo de hoje.
(Geraldo Borges)
Um comentário:
Conheci e só não vi mais vezes, do que os seus familiares, no mais, era o pra lá e pra cá na calçada da nossa moradia, vizinha a dele.
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