No meu tempo de criança eu só
sabia desenhar uma casa com uma porta e uma janela e uma arvore ao lado de um cercado e um sol de olho arregalado no alto da página.
Imagino que essa era a casa onde eu havia nascido e continuava morando. Ela
flutuava um pouco fora dos alicerces. Por mais que eu desejasse desenhar outra
coisa, sempre que pegava o lápis, mordia a língua, e franzia a testa, e riscava
o papel, não conseguia modificar o meu
desenho. Uma casa, uma janela, uma porta, um sol, um céu limpo de chuva eram os
elemento que sempre apareciam no meu desenho. Às vezes eu acrescentava um
passarinho num ramo da árvore. Esse desenho feito refeito, várias versões, tornou-se a minha obra prima.
Até que um dia, o tempo me levou, além, muito além do meu
desenho. Desenhei dois bonecos dentro da
casa. Talvez fossem meu pai e minha mãe.
Passei meu período de infância,
entrei pela adolescência e mocidade e esqueci o meu desenho. Mas, um dia,
devaneando, para preencher o tempo, empunhei o
meu grafite e comecei a me enredar nos bastidores tentando desenhar
alguma coisa.
Não é que a velha casa apareceu
no papel, flutuando, fora dos alicerces, com seu cercado, com sua porta, sua
janela, seu sol arregalado no céu azul,
e o seu passarinho. Paisagem que eu pensei não
estivesse mais ao alcance de minha mão
È que agora eu estou morando em
um apartamento. E em nossa rua não há uma árvore sequer. Por isso mesmo resolvi
colocar o meu desenho em uma leve
moldura e pendurá-lo em uma das paredes da minha sala.Pois a considero a minha
obra prima.
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